Saturday, November 25, 2023

Tudo que vai para o futuro

 

ÉTICA E MORAL

Quer deixar o pessoal do Outro Lado realmente furioso? Interfira no destino de outras pessoas, mesmo no destino de um ‘qualquer‘ e será o suficiente. No seu próprio pode tudo, o livre arbítrio permite, mas usar o seu para mudar o curso de outra vida, ou interferir no livre-arbítrio de quem está do lado, é muito grave. Não existe mudar para bem, mudanças no curso de vida de outra pessoa, que ela mesma não tenha iniciado, sempre serão ruins, mesmo que você salve a vida de alguém, por algum tempo.

Então não posso fazer nada, nem salvar uma criança se afogando? Sim. Levando ao pé da letra seria isso mesmo, mas existe um atenuante, algo que faz pesar menos essa interferência, que é o seu coração. Se ele disser: ‘não suporto ver essa criança morrer, não agora, não desse jeito, mesmo que ela venha a fazer Hitler parecer uma flor’, então faça algo - lute. Se você não estava lá para salvá-la, ou seus esforços foram inúteis, você fez a sua parte (seu coração lhe diz isso). Imagine como ficou a pessoa que salvou Hitler do assassinato?

E o que me diz de, salvando uma suposta criança, o pai dela não passe pela única dor que o faria abrir um orfanato para outras duzentas crianças que teriam que ser “salvas” por ele? Imagine esse homem sendo um cretino o resto da vida, mimando tanto o filho salvo que não só não abriu o orfanato como faria mais uma criança vir a ser um adulto vazio. Você seria cúmplice em qualquer coisa que acontecesse a essa criança e família, em tudo que não viesse a acontecer, que teria acontecido sem sua interferência. Isso o faz pensar sob uma nova perspectiva, não?

Então, para assumir uma responsabilidade ‘universal‘, aja com a verdade que seu coração agüenta, para não viver em arrependimento por muito tempo. Aja em concordância com seus sentimentos e saiba quais deles são verdadeiros, não os ensinados pela sua sociedade e cultura. Não viva a verdade dos outros, encarnados ou não, que não seja sua também.

A lei mais profunda sobre o futuro é que nada fica escondido para sempre, tudo reaparece, tudo fica claro, tudo retorna, mesmo que leve muito tempo. Arqueólogos amam essa regra, toda civilização, mesmo as que estão enterradas nas Fossas Marianas, ou no Alasca, irão mostrar seus restos um dia, mesmo que leve milhares de anos. Pense numa estrada em círculos (o tempo e o espaço são curvos, não é mesmo?), você passará por onde está a marca do que fez no passado. Você quer ver aquela marca? Se não quer, a única coisa a fazer é não cria-la, pois mais dia menos dia, você voltará ali.

Aborto. Considerado de todas a pior forma de matar, não porque quem morre não pode sequer se defender do ataque, mas olhe como contagem regressiva - quanto mais perto da morte natural, mais o espírito caminhou e menos coisas deixaram de serem feitas, quanto mais jovem você é, menos pôde cumprir seus atos, portanto mais estragos para o seu futuro e de outras pessoas que teriam que ter interagido com você. Então, na realidade, você está impedindo alguém de pagar suas contas, rever erros de vidas passadas e de ter o tempo necessário para entender esses erros. Vou contar como um ato contra outra pessoa pode estragar a vida de mil outras através de um exemplo pessoal.

Fui uma judia alemã na segunda guerra, última vida antes desta. Morri em um campo de concentração, como cobaia de experimentos médicos e meu marido morreu tentando me defender de um estupro, poucas horas antes da hora natural da minha morte chegar. Ele não morreu do que deveria morrer, mas antecipou sua morte em alguns dias e não impediu o meu sofrimento, mas o aliviou um pouco, pois sabia que a morte dele seria em um experimento nazista e as coronhadas do fuzil do soldado alemão que o mataram foram bem menos dolorosas que a tortura que teria de passar. Por outro lado, isso não lhe permitiu resgatar um karma do passado e uma hora dessas terá que rever isso. O soldado que o matou, inconscientemente, alterou o destino de nós três e tem responsabilidade enquanto o que tiver de acontecer não aconteça, leve quantas vidas for necessário. Não falo isso com alegria.

Para entrar nesta vida tive problemas. A mãe e o pai que deveriam me abrir à porta da carne, não queriam por filhos neste mundo e me abortaram duas vezes. Mesmo se precavendo com métodos anticoncepcionais minha mãe engravidou duas, talvez três vezes. Ela própria me confirmou isso, nesta vida.

Esses pais deveriam ser minha família por várias razões, todas karmicas, mas, como sempre, para pagar dividas e receber dividendos. Sou mulher e não consigo repreender alguém que faça aborto. Lamento que tenham que fazer ilegalmente em muitos países, pois o fato de muitas morrerem em abortos ilegais faz com que elas não se responsabilizem nesta vida pelo ato que cometeram, tipo fazer aqui e pagar aqui. Essas mulheres renascem e tentam desesperadamente ter filhos sem conseguirem, pois quando podiam negaram, assim é negado à hora que mais desejarem. Não sou eu quem faz essas leis. Já abortei em várias vidas e já paguei por isso em várias outras. Uma amiga que aborte não deixa de ser minha amiga. Assim como estive com elas na alegria, estarei com ela no sofrimento e na hora que tiver de assumir seus atos.

O que então foi tão grave em minha mãe ter usado de seu livre arbítrio? Foi o fato de que mexia com o destino não só dela, mas de todo mundo que dependia do meu nascimento para seguir com esse grande tapete que o Tecelão Chefe tece dia à dia. Um fio que foi esquecido, não colocado, fará que todos os outros fios saiam do padrão que deveriam estar e o Tecelão fica chateado pois quem já fez um tapete sabe o trabalho que dá mudar o padrão do desenho, no meio da peça. Às vezes simplesmente não dá para mudar. Na vida isso significa que fatos importantes a nível individual e coletivo não acontecerão.

No caso de minha mãe, que tinha condições financeiras para me sustentar, a situação é pior, não há desculpas. Quando as entidades responsáveis viram que ela não permitiria minha entrada, com a urgência em vir a terra, arranjaram uma mãe “adotiva” dentro da mesma família da mãe que me abortara e nasci com 20 anos de atraso. Deveria ser bem mais velha hoje e não queira saber as consequências disso. O aborto realmente provoca cicatrizes no corpo espiritual e entrei neste corpo com problemas na coluna que me fazem sentir muita dor. Não fiz mal algum para merecer essa dor, minha mãe até hoje não pensou nisso, mas vou senti-la enquanto viver.

Agora outras coisas que não posso prever e que me prejudicaram como pessoas que não conheci, estudos e escolas que não cursei, filhos que não tive, netos que não terei destes filhos, empregos nos quais deveria ter estado, pessoas que não participei das suas vida para bem ou para mal, karmas que não poderei resgatar por não ter entrado na linha da vida terrena na hora prevista...todos serão remanejados as minhas custas, não nas de quem provocou o aborto.

Se odeio a mãe que me negou vida? Não ela, mas o que fez, sim. Exemplificando o que falei sobre tudo o que se faz no passado criar uma ‘marca’ que fatalmente volta no futuro, hoje ela precisa da ajuda da filha que não teve, e, mesmo que eu queira, não posso ajudá-la, por estar trilhando uma vida “adaptada”, com as dificuldades técnicas desta vida e da que ela me privou ao mesmo tempo.

Nesta vida, quando soube que iria engravidar, mesmo sem emprego e com o pai da criança a dois anos de distância de mim, um dos pontos mais fortes em consentir seu nascimento era não fazer outra pessoa passar pelo que passo.

Quando você se mata também estará negando outros de receberem ou de darem a você o que teria de ser, e esse é o grande problema - o de que o problema não é só seu. Tem a música do repertório brasileiro cujo verso fala: “Fiz tanta guerra por não saber que esta terra encerra meu bem querer...”. Você vive entre os que ama e ver o sofrimento deles é pior do que você sofrer. Então entra o dilema do que você não faz para não ferir a si e/ou aos que ama e como médium existem algumas responsabilidades extras.

Agora volte um tanto no passado e pense na moralidade de um ponto de vista histórico. Imagine se não houvesse um Brasil descoberto por portugueses, que não houvesse índios aqui, que os europeus não houvessem imigrado, que os africanos não fossem trazidos para cá. Você estaria lendo este livro? Não há como dizer. Usando um termo científico: não é verificável, mas se o ditado: “Todos os caminhos levam a Roma” for encarado em perspectiva mais ampla, então pode ser que, não importando o que tivesse acontecido antes, hoje você estaria lendo este livro porque sim, por que Deus quis, porque era inevitável.

Dessa forma, os portugueses não poderiam ter sido mais legais com os índios? Com certeza o tipo de moral da época do descobrimento permitia e encorajava a matança que ficou escrita na história. Médiuns que tentaram intervir foram para a fogueira ou viveram fugindo o resto da vida. Muitos deles vieram para o Brasil caçaram uma índia na floresta, à moda antiga, e foram viver num fundão de mato (que tinha aos montes), felizes para sempre. Deve ser por isso que existem tantos médiuns no Brasil em comparação à média européia, pois os índios acolhiam a mediunidade sob outra perspectiva do que a do fogo queimando a carne.

Pelo futuro muito pode ser feito, mas nada pelo passado mesmo que você tenha sido um dos portugueses que gostava de caçar índias no sertão. Pensar que estão lhe perseguindo hoje pelos que possa ter caçado no passado é uma possibilidade e não seria muito inteligente cuspir para frente perseguindo e aprisionando mais pessoas com seu magnetismo pessoal. Qual a diferença entre caçar com arco e flecha, ou com magia, ou com contratos de casamento? A diferença está nas armas, não no verbo. Você realmente acha que o contrato de casamento fere menos que o arco e a flecha? Interessante a analogia de Eros, deus do amor, usar o arco e a flecha ferramentas usuais de caça.

Outro exemplo histórico de ética é o de Jesus. Vamos considerar que ele era um homem com a mentalidade do nosso século vivendo dois mil anos antes. Assim, parece bem razoável que tenha sido torturado e morto. Se um homem do ano 4678 viesse dar nestas paragens, estaríamos torturando-o em um desses complexos militares de hoje, para extrair o máximo de informação possível e desenvolver tecnologias que melhorassem o jeito com que matamos o próximo. Só que Jesus nasceu sabendo da condição mental e moral da época, então tenho certeza que ele fez muito mais do que os Evangelhos relatam. Tê-lo-iam preso e matado antes do programado se soubessem de tudo o que ele fez nos anos dos quais não temos registro.

Para cada sociedade seus cidadãos e para cada cabeça uma sentença. Mudar a consciência de uma sociedade, hoje, é mais fácil e eficaz do que antes da invenção do cinema e da televisão. Vejo que muitos filmes e desenhos ajudaram a geração dos meus filhos em diante a entender conceitos que eu tive de acessar sozinha em se tratando da mediunidade e das comunicações. Desenhos como Pokémon, Cavaleiros do Zodíaco, Avatar; ou filmes como Jumpers (2008- Doug Liman), Efeito Borboleta (2004 –Eric Bress e J Mackye Gruber), Harry Potter(baseado nos livros de J.K.Rowling) e O Sexto Sentido (1999 – M. Night Shyamalan), que não foram criados para explicar ou fazer entender a mediunidade, mas estão ajudando a explicar o conceito de vários detalhes ligados a ela.

Para mim foi, definitivamente, um choque explicar para meu filho de nove anos, com toda pompa e circunstância, o que eram entidades e como elas trabalhavam com os humanos, e ver o pequeno olhar com cara de saco cheio respondendo: “Eu sei! É que nem no Pokémon, tem da mata, do fogo, do mar, da magia, e tem que fazer eles evoluírem, se não, não dá certo!” - e a conversa  se encerra com uma atitude tipo “só você que não sabia”.

Fiquei feliz em ver que a minha traseira não ficou dolorida em vão, naquele cinema lotado, com um bebê de 10 quilos no colo (que dormiu o filme todo), por duas agonizantes horas de um filme que achava inútil. Há certos sacrifícios que valem a pena, mesmo que não se possa ver o resultado imediatamente.

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