UM POUCO DE HISTÓRIA
Mexendo nas memórias de vidas passadas mais antigas, não
consigo, ainda, definir se a mediunidade vem decrescendo em número de
portadores e potência, ou se estamos fingindo que ela não existe há tanto tempo
que se torna do jeito que desejamos. Como existe um custo energético para quem
é portador, aqueles que se encarregam de nós, talvez vendo a inutilidade da
coisa toda, decidiram diminuir o volume, mas não retirar o disco. Aqui vou
contar o que vi e me lembro desses milênios todos.
Existe uma linha de tempo que cruza a nossa vida (acredito
em buracos de minhoca), não consigo definir o início, mas em cujo final percebo
uma linha demarcatória, uma separação, que durou um milênio e decorreu suavemente.
Terminou por inteiro ao se consolidar a civilização na Terra. Cada povo teve um
final em épocas diferentes. Os egípcios o tiveram no inicio do reinado dos
faraós, os gregos, 200 anos antes dos grandes pensadores, os babilônicos também
100 anos antes do épico Gilgamesh ser escrito e os maias bem recentemente, mas
com diferença de 1000 anos antes do que se tem sua civilização como existente.
Esse cruzamento de linhas é o entrelaçamento do Outro Lado
com o Nosso Lado. Éramos bem mais próximos e não nos incomodávamos uns com os
Outros. Mesmo porque não sabíamos que éramos dois lados, pois as fronteiras
eram abertas e todos as viam. Elas ainda estão no mesmo lugar, mas foi mais
fácil as esconderem de nós, do que deixarem-nas a vista com um cartaz NÃO PASSARÁS,
bem mal educado.
Como exemplo, pense na água. No início havia o átomo de
hidrogênio e oxigênio, depois a molécula de H2O e da união de bilhões dessa
molécula, surgiu a gota d’água. Da mesma forma aconteceu com o período de
transição de espirito para matéria, o período “atômico” nosso levou algo em
torno de um milhão de anos, outro milhão para nos acostumarmos com o corpo físico
e, quando aqueles que nos vigiavam perceberam estarmos prontos, se afastaram
num sistema semelhante à reintegração de animais a natureza. Nosso período
‘sutil’ foi o início da espécie humana: em espírito e consciência acontecia
enquanto a Terra estava sendo preparada para nós. O período da molécula H2O se compara
ao período de inserção à natureza. Os hominídeos primitivos tinham alma, mas a
memória cerebral não fixava nada, já que a sobrevivência carnal era muito
trabalho para o pequeno cérebro, mas viam os espíritos. Quando a memória
surgiu, começaram a cultuar deuses e enterrar mortos. Ali a separação entre os
dois mundos começou de fato.
Neste ponto a história passa a ser interessante para nós. Na
época da pedra vemos o humano se interessar em deixar registrado o que
acontecia em suas vidas. Claro que os animais humanos pintados nas cavernas
foram tidos como xamãs vestidos de animais, mas eles estavam copiando o que viam.
Aqueles seres vinham para ajudar a aperfeiçoar a raça e tinham formas que nós,
naquela época, tomamos por animais. O cérebro humano ao ver algo novo, puxa a
definição para aquilo com que mais se assemelha. Conforme vai aprendendo, o
Homem passa a se exprimir melhor, mas as pinturas rupestres, feitas nas paredes
das cavernas, registraram o que foi compreendido na época.
Era mediunidade? Não, não se encaixa nessa definição, pois
não havia o que mediar. nós e Eles estávamos no mesmo tempo e espaço. Ao
começar a separação entre mundos, ao vermos os entes queridos morrerem, não
vê-los mais como antes e não haver mais forma de saber onde estavam, duas
coisas aconteceram: o enterro ritual, como forma de despedida que antes não
ocorria, e o nascimento da mediunidade, como forma de telefonia entre dois
pontos quaisquer.
Sinto que a historia de Adão, Lilith e Eva foi contada dessa
forma não para explicar o sexo, mas sim a mediunidade. Esconder a questão
mediúnica não foi um golpe “baixo”? O que quer que tenha acontecido para
separar dois mundos aconteceu ali, quando o homem passou a não saber o que
acontecia com os seus. O inferno e o céu
humanos foram abertos, mais ou menos como foi descrito pelas religiões, que
(ora, ora!) nasceram lá, naquele momento. Não foi ‘tentar explicar o trovão’,
foi a perda do contato com quem amávamos que nos fez criar alternativas para a
dor do mundo, que é a dor da perda. Enquanto o fato de ter ou não carne não
fazia diferença, tudo bem. Porém o que doeu foi não ver mais quem se ama. Após
a morte do corpo, piamos como passarinhos no ninho.
Então, do que me lembro, a mediunidade não veio com a
evolução da raça, mas deve ser o gene mais antigo que possuímos e está
escondido embaixo de nossa inconsciência. Conforme as linhas entre mundos se
afastou, como dois continentes, aqueles que mantinham um cabo de comunicação
foram se tornando especiais, como quando a televisão chegou e quem tivesse
aquele imenso caixote era o rei da rua, com todo mundo vindo se empoleirar na janela
da sala para ver a novela. Entretanto, a população respeitava o médium como uma
pessoa normal que tinha uma televisão em casa. As crianças nasciam com isso e iam
perdendo a capacidade lentamente, com o fechamento da moleira, o espaço entre
os ossos cranianos, como ainda ocorre hoje em dia.
Enquanto fomos caçadores coletores, os rituais eram feitos
na natureza e os médiuns viviam em suas tendas. Quando a inevitável mudança
para a agricultura chegou, os espaços sagrados começaram a ser construídos, as
cidades e os deuses se tornaram mais caseiros e os médiuns começaram a ser
transferidos para onde fosse mais fácil vê-los: dentro dos templos. Nascendo a
cidade, nasceu a instituição religiosa e a institucionalização dos médiuns.
Como disse, o endeusamento da mediunidade foi decorrência da
raridade em que ela se tornava. Conforme a prática diária de ‘estar vivo’ ficou
mais complicada do que apenas comer e reproduzir, passamos a ter que viver mais
aqui do que Lá, e ‘olhar’ para a televisão que o médium representava foi ficando
cada vez menos interessante.
Quando as cidades não eram mais uma novidade, a política
surgiu. Não a tribal, inofensiva, mas aquela que nos acompanha até hoje. Nesse
ponto a mediunidade começou seu caminho de desconstrução porque a política não
quer saber sobre bem estar, mas sim sobre o que dá poder ou não. Reter
conhecimento dá poder a quem o possui e médiuns forneciam acesso à informação
‘privilegiada’. A religião se tornou a opressão na vida do cidadão, não o
alívio. Como não existia ciência separada da religião, os detentores do saber
se tornaram guardiões dos médiuns, desde que estes aparecessem. Isso era facilmente
arranjado oferecendo-se casa comida e roupa lavada, com umas pitadas de glamour
providas pelas festividades e pronto! Apareciam várias crianças para preencher
os cargos vagos nos templos que, como nada é de graça, eram educadas para serem
médiuns à moda do reinante, pois era ele quem sustentava o templo. Todo o resto
é história para boi dormir.
Aqui um parêntese: tudo que é ruim tem também um lado bom. Existiam
alguns benefícios reais para quem era mesmo médium. A época já não era a
relação entre natureza e Homem, e sim do Homem sobre a natureza e ser médium já
estava dando trabalho, começando pelo fato que eles serviam super bem para
sacrifícios humanos. Quando o ser humano perdeu a comunicação direta com o
Outro Lado e as perguntas passaram a ficar sem resposta para os não médiuns, o
pensamento foi: “Será que se mandarmos os que são meio lá e meio cá eles
respondem?” “Talvez mandando os ‘celulares’ que eles perderam (os médiuns), de
volta, a gente consiga parar a seca!”. Então a matança começou. Nenhum deus ou
deusa pediu sangue humano, nunca, mas agora existem alguns que pegaram gosto e
a culpa é nossa. A institucionalização da mediunidade a serviço de deuses, sob
a forma do poder político local, protegia o médium apenas contra certas formas
de sacrifícios.
Ficar num “internato” desde os sete anos era uma benção para
o médium. Os problemas descritos antes, versando sobre família, amigos e
trabalho, deixavam de existir. Você estaria com quem era igual a você e isso
evitava muitas explicações. Andaria na rua com vestes de sacerdotisa ou
sacerdote e ninguém lhe perguntaria nada. Havia respeito, pois mesmo em épocas
de guerra, estuprar ou matar gente santa (como eram considerados) dava um azar
medonho e o povo, se não tinha respeito, pelo menos morria de medo. Desta
forma, o médium tinha sua vida material assegurada, pois a instituição provia
isso, assim como a igreja hoje faz com
seus padres e freiras.
Houve uma inovação na aceitação de indivíduos para
internação em mosteiros e conventos da igreja católica: os internos são,
descontando os aspectos de segurança material, os que buscam Deus, com ou sem
mediunidade. Nas outras religiões, principalmente as politeístas, você entrava
por ser médium e apresentar alguma utilidade porque ter um dom era considerado ser
parte do mundo de Lá.
É preciso mencionar que, como religião e medicina andavam
juntas, os médiuns tinham um papel reconhecido na sociedade. Era dentro dos
templos que a medicina era praticada e médiuns eram utilizados nas curas se bem
treinados. Tive vidas muito produtivas e prazerosas nestas sociedades
politeístas. Conheci sacerdotes fabulosos e mulheres que beiravam o divino.
Apreciei muito estas vidas, exceto pelos sacrifícios nos quais me usaram não
raras vezes.
Mais ou menos quando o antigo testamento foi escrito, muitas
coisas começaram a mudar, pois as religiões se tornaram focadas nos homens, o
mundo se masculinizou. Não querendo parecer indelicada, devo dizer que a
situação piorou para todos. Esquecer a importância do princípio materno não é
bom negócio, ou não é verdade que os povos mais belicosos de hoje são os que
esqueceram o lado materno da força? Quando Astarte deixou de ser cultuada pelos
hebreus, a matança começou e a escravidão se intensificou naquela região. As religiões
masculinizadas mudaram a forma de enxergar as mulheres médiuns. O racismo
sexual foi incorporado à religião, que, olha a coincidência, passou a segregar
pessoas de outras raças também. As sacerdotisas continuaram exercendo poder mas
dentro de núcleos menores, poder esse sempre voltado ao grande deus chefe. No
lado espiritual, não há grande deus-chefe e essa conotação era reflexo da mudança
política no nosso mundo. Não há dominância masculina ou feminina no Outro Lado,
mas uma alternância de forças, como na corrente de energia.
Daí em diante a mulher médium passou a ter problemas maiores
que os homens médiuns e a qualidade da vida sexual piorou, para todo mundo. Então,
a mediunidade que antes era um problema não vinculado ao sexo, passou a ser. Mesmo
assim, a mulher conservou a mediunidade melhor que o homem por uma questão de
autoproteção, pois ela percebeu que saber de coisas que estavam por acontecer
era ter uma vantagem a mais inclusive na sobrevivência dos seus filhos. A fêmea
sempre teve que correr mais, ser mais agressiva e em certas raças ter mais
força e tamanho, para que as crias se salvassem. Ter uma inteligência mais
aguçada era uma questão de sobrevivência, assim como aceitar a mediunidade e a
esconder como um segredo. Somos mais bonitas também, isso não se discute,
embora haja homens que podem ser muito belos, nós somos mais viçosas. Há aquela
piada que Deus respondeu ao homem que tinha feito à mulher mais bela para que
ele se agradasse dela e mais burra para que aceitasse se casar com ele. Faz
sentido, não?
Depois veio Jesus Cristo, aquele que nós descendentes da
cultura cristã chamamos sempre que a coisa fica feia, o que é estranho, pois a
coisa ficou mais feia justamente para ele e nós ainda assim achamos que ele
pode resolver tudo. Dele posso dizer que respeitava as antigas religiões, as
mulheres, os ricos e pobres, os jovens e velhos. Era médium completo, pois
tinha todos os tipos de mediunidade em um só corpo, era muito inteligente
também. Não tinha essa beleza que mostram nas pinturas, era bem judeu, cabelo
cacheado e negro, para mim era bonito e o acho o máximo.
Ele sabia que não dava para mudar o mundo e fez a parte
dele, mas, para os médiuns, não fez muita diferença, pois Jesus estava ali para
dar uma acelerada no processo de aperfeiçoamento da mentalidade humana e não
para discutir a questão mediúnica. Se ele nascesse nos dias de hoje, o matariam
de novo. A idéia de crucificá-lo causou muitos problemas para a raça ocidental.
Não tenho como lhe dar o tamanho real do peso que foi gerado pelo ato, mas
Herodes mandar matar os recém-nascidos também foi péssima ideia, assim como
Hitler mandar matar os judeus na segunda grande guerra. Porém, enquanto nos
matamos apenas “entre nós”, fica em família. Matar aqueles que vieram do Outro
Lado com uma missão a cumprir não foi educado da nossa parte e estamos pagando por
esta falta de tato até hoje.
Depois de Cristo a situação do médium não sofreu
modificação. Posteriormente, o mosteiro e o convento se tornaram locais de uma
busca diferente que, sem tirar o mérito, não ajudou, diretamente falando, o
médium que quisesse buscar equilíbrio para si. Com o cristianismo se
espalhando, as comunidades que anteriormente usavam o antigo sistema de suporte
social e pessoal ao médium, se tornaram locais de racismo que já era sexual,
depois social e por fim religioso. O ser humano aceitou isso da mesma forma
como já o tinha feito com o sacrifício humano.
Sobre a Inquisição e suas fogueiras, poucos médiuns foram
parar nela. A bem da verdade foi queimado quem era doido, ou inimigo de gente
poderosa e os que quiseram falar a verdade, como Galileu Galilei. Médiuns
treinados não foram para a fogueira, pois ver o futuro dava algumas vantagens e
tempo para fuga, como alguns famosos na Idade Média, tipo Nostradamus, que
conseguiu vestir a camisa da mediunidade e escapar antes das consequências se
tornarem mortais.
A maioria das mulheres que foram para fogueira caíram por
perseguição de algum desafeto que, muito chateado, não conseguiu o premiozinho
que queria. Se a Inquisição persistisse, muitos homens teriam mandado sogra,
esposa, mulher dos outros que não deu o que queriam e filha que quis dar o que
não permitiam, para a fogueira, pois a Inquisição serviu bem para isso.
Nos dias
de hoje, médiuns vivem as mesmas dificuldades de sexo, raça, religião, que vi
no passado. Talvez um pouco pior porque o racionalismo e a ciência não
trouxeram luz sobre o assunto de uma forma que o médium possa sentir diferença
na qualidade de vida que tem levado.
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