Tuesday, November 28, 2023

Tudo o que veio do passado

 

UM POUCO DE HISTÓRIA

Mexendo nas memórias de vidas passadas mais antigas, não consigo, ainda, definir se a mediunidade vem decrescendo em número de portadores e potência, ou se estamos fingindo que ela não existe há tanto tempo que se torna do jeito que desejamos. Como existe um custo energético para quem é portador, aqueles que se encarregam de nós, talvez vendo a inutilidade da coisa toda, decidiram diminuir o volume, mas não retirar o disco. Aqui vou contar o que vi e me lembro desses milênios todos.

Existe uma linha de tempo que cruza a nossa vida (acredito em buracos de minhoca), não consigo definir o início, mas em cujo final percebo uma linha demarcatória, uma separação, que durou um milênio e decorreu suavemente. Terminou por inteiro ao se consolidar a civilização na Terra. Cada povo teve um final em épocas diferentes. Os egípcios o tiveram no inicio do reinado dos faraós, os gregos, 200 anos antes dos grandes pensadores, os babilônicos também 100 anos antes do épico Gilgamesh ser escrito e os maias bem recentemente, mas com diferença de 1000 anos antes do que se tem sua civilização como existente.

Esse cruzamento de linhas é o entrelaçamento do Outro Lado com o Nosso Lado. Éramos bem mais próximos e não nos incomodávamos uns com os Outros. Mesmo porque não sabíamos que éramos dois lados, pois as fronteiras eram abertas e todos as viam. Elas ainda estão no mesmo lugar, mas foi mais fácil as esconderem de nós, do que deixarem-nas a vista com um cartaz NÃO PASSARÁS, bem mal educado.

Como exemplo, pense na água. No início havia o átomo de hidrogênio e oxigênio, depois a molécula de H2O e da união de bilhões dessa molécula, surgiu a gota d’água. Da mesma forma aconteceu com o período de transição de espirito para matéria, o período “atômico” nosso levou algo em torno de um milhão de anos, outro milhão para nos acostumarmos com o corpo físico e, quando aqueles que nos vigiavam perceberam estarmos prontos, se afastaram num sistema semelhante à reintegração de animais a natureza. Nosso período ‘sutil’ foi o início da espécie humana: em espírito e consciência acontecia enquanto a Terra estava sendo preparada para nós. O período da molécula H2O se compara ao período de inserção à natureza. Os hominídeos primitivos tinham alma, mas a memória cerebral não fixava nada, já que a sobrevivência carnal era muito trabalho para o pequeno cérebro, mas viam os espíritos. Quando a memória surgiu, começaram a cultuar deuses e enterrar mortos. Ali a separação entre os dois mundos começou de fato.

Neste ponto a história passa a ser interessante para nós. Na época da pedra vemos o humano se interessar em deixar registrado o que acontecia em suas vidas. Claro que os animais humanos pintados nas cavernas foram tidos como xamãs vestidos de animais, mas eles estavam copiando o que viam. Aqueles seres vinham para ajudar a aperfeiçoar a raça e tinham formas que nós, naquela época, tomamos por animais. O cérebro humano ao ver algo novo, puxa a definição para aquilo com que mais se assemelha. Conforme vai aprendendo, o Homem passa a se exprimir melhor, mas as pinturas rupestres, feitas nas paredes das cavernas, registraram o que foi compreendido na época.

Era mediunidade? Não, não se encaixa nessa definição, pois não havia o que mediar. nós e Eles estávamos no mesmo tempo e espaço. Ao começar a separação entre mundos, ao vermos os entes queridos morrerem, não vê-los mais como antes e não haver mais forma de saber onde estavam, duas coisas aconteceram: o enterro ritual, como forma de despedida que antes não ocorria, e o nascimento da mediunidade, como forma de telefonia entre dois pontos quaisquer.

Sinto que a historia de Adão, Lilith e Eva foi contada dessa forma não para explicar o sexo, mas sim a mediunidade. Esconder a questão mediúnica não foi um golpe “baixo”? O que quer que tenha acontecido para separar dois mundos aconteceu ali, quando o homem passou a não saber o que acontecia com os seus. O inferno e o céu humanos foram abertos, mais ou menos como foi descrito pelas religiões, que (ora, ora!) nasceram lá, naquele momento. Não foi ‘tentar explicar o trovão’, foi a perda do contato com quem amávamos que nos fez criar alternativas para a dor do mundo, que é a dor da perda. Enquanto o fato de ter ou não carne não fazia diferença, tudo bem. Porém o que doeu foi não ver mais quem se ama. Após a morte do corpo, piamos como passarinhos no ninho.

Então, do que me lembro, a mediunidade não veio com a evolução da raça, mas deve ser o gene mais antigo que possuímos e está escondido embaixo de nossa inconsciência. Conforme as linhas entre mundos se afastou, como dois continentes, aqueles que mantinham um cabo de comunicação foram se tornando especiais, como quando a televisão chegou e quem tivesse aquele imenso caixote era o rei da rua, com todo mundo vindo se empoleirar na janela da sala para ver a novela. Entretanto, a população respeitava o médium como uma pessoa normal que tinha uma televisão em casa. As crianças nasciam com isso e iam perdendo a capacidade lentamente, com o fechamento da moleira, o espaço entre os ossos cranianos, como ainda ocorre hoje em dia.

Enquanto fomos caçadores coletores, os rituais eram feitos na natureza e os médiuns viviam em suas tendas. Quando a inevitável mudança para a agricultura chegou, os espaços sagrados começaram a ser construídos, as cidades e os deuses se tornaram mais caseiros e os médiuns começaram a ser transferidos para onde fosse mais fácil vê-los: dentro dos templos. Nascendo a cidade, nasceu a instituição religiosa e a institucionalização dos médiuns.

Como disse, o endeusamento da mediunidade foi decorrência da raridade em que ela se tornava. Conforme a prática diária de ‘estar vivo’ ficou mais complicada do que apenas comer e reproduzir, passamos a ter que viver mais aqui do que Lá, e ‘olhar’ para a televisão que o médium representava foi ficando cada vez menos interessante.

Quando as cidades não eram mais uma novidade, a política surgiu. Não a tribal, inofensiva, mas aquela que nos acompanha até hoje. Nesse ponto a mediunidade começou seu caminho de desconstrução porque a política não quer saber sobre bem estar, mas sim sobre o que dá poder ou não. Reter conhecimento dá poder a quem o possui e médiuns forneciam acesso à informação ‘privilegiada’. A religião se tornou a opressão na vida do cidadão, não o alívio. Como não existia ciência separada da religião, os detentores do saber se tornaram guardiões dos médiuns, desde que estes aparecessem. Isso era facilmente arranjado oferecendo-se casa comida e roupa lavada, com umas pitadas de glamour providas pelas festividades e pronto! Apareciam várias crianças para preencher os cargos vagos nos templos que, como nada é de graça, eram educadas para serem médiuns à moda do reinante, pois era ele quem sustentava o templo. Todo o resto é história para boi dormir.

Aqui um parêntese: tudo que é ruim tem também um lado bom. Existiam alguns benefícios reais para quem era mesmo médium. A época já não era a relação entre natureza e Homem, e sim do Homem sobre a natureza e ser médium já estava dando trabalho, começando pelo fato que eles serviam super bem para sacrifícios humanos. Quando o ser humano perdeu a comunicação direta com o Outro Lado e as perguntas passaram a ficar sem resposta para os não médiuns, o pensamento foi: “Será que se mandarmos os que são meio lá e meio cá eles respondem?” “Talvez mandando os ‘celulares’ que eles perderam (os médiuns), de volta, a gente consiga parar a seca!”. Então a matança começou. Nenhum deus ou deusa pediu sangue humano, nunca, mas agora existem alguns que pegaram gosto e a culpa é nossa. A institucionalização da mediunidade a serviço de deuses, sob a forma do poder político local, protegia o médium apenas contra certas formas de sacrifícios.

Ficar num “internato” desde os sete anos era uma benção para o médium. Os problemas descritos antes, versando sobre família, amigos e trabalho, deixavam de existir. Você estaria com quem era igual a você e isso evitava muitas explicações. Andaria na rua com vestes de sacerdotisa ou sacerdote e ninguém lhe perguntaria nada. Havia respeito, pois mesmo em épocas de guerra, estuprar ou matar gente santa (como eram considerados) dava um azar medonho e o povo, se não tinha respeito, pelo menos morria de medo. Desta forma, o médium tinha sua vida material assegurada, pois a instituição provia isso, assim como a igreja hoje  faz com seus padres e freiras.

Houve uma inovação na aceitação de indivíduos para internação em mosteiros e conventos da igreja católica: os internos são, descontando os aspectos de segurança material, os que buscam Deus, com ou sem mediunidade. Nas outras religiões, principalmente as politeístas, você entrava por ser médium e apresentar alguma utilidade porque ter um dom era considerado ser parte do mundo de Lá.

É preciso mencionar que, como religião e medicina andavam juntas, os médiuns tinham um papel reconhecido na sociedade. Era dentro dos templos que a medicina era praticada e médiuns eram utilizados nas curas se bem treinados. Tive vidas muito produtivas e prazerosas nestas sociedades politeístas. Conheci sacerdotes fabulosos e mulheres que beiravam o divino. Apreciei muito estas vidas, exceto pelos sacrifícios nos quais me usaram não raras vezes.

Mais ou menos quando o antigo testamento foi escrito, muitas coisas começaram a mudar, pois as religiões se tornaram focadas nos homens, o mundo se masculinizou. Não querendo parecer indelicada, devo dizer que a situação piorou para todos. Esquecer a importância do princípio materno não é bom negócio, ou não é verdade que os povos mais belicosos de hoje são os que esqueceram o lado materno da força? Quando Astarte deixou de ser cultuada pelos hebreus, a matança começou e a escravidão se intensificou naquela região. As religiões masculinizadas mudaram a forma de enxergar as mulheres médiuns. O racismo sexual foi incorporado à religião, que, olha a coincidência, passou a segregar pessoas de outras raças também. As sacerdotisas continuaram exercendo poder mas dentro de núcleos menores, poder esse sempre voltado ao grande deus chefe. No lado espiritual, não há grande deus-chefe e essa conotação era reflexo da mudança política no nosso mundo. Não há dominância masculina ou feminina no Outro Lado, mas uma alternância de forças, como na corrente de energia.

Daí em diante a mulher médium passou a ter problemas maiores que os homens médiuns e a qualidade da vida sexual piorou, para todo mundo. Então, a mediunidade que antes era um problema não vinculado ao sexo, passou a ser. Mesmo assim, a mulher conservou a mediunidade melhor que o homem por uma questão de autoproteção, pois ela percebeu que saber de coisas que estavam por acontecer era ter uma vantagem a mais inclusive na sobrevivência dos seus filhos. A fêmea sempre teve que correr mais, ser mais agressiva e em certas raças ter mais força e tamanho, para que as crias se salvassem. Ter uma inteligência mais aguçada era uma questão de sobrevivência, assim como aceitar a mediunidade e a esconder como um segredo. Somos mais bonitas também, isso não se discute, embora haja homens que podem ser muito belos, nós somos mais viçosas. Há aquela piada que Deus respondeu ao homem que tinha feito à mulher mais bela para que ele se agradasse dela e mais burra para que aceitasse se casar com ele. Faz sentido, não?

Depois veio Jesus Cristo, aquele que nós descendentes da cultura cristã chamamos sempre que a coisa fica feia, o que é estranho, pois a coisa ficou mais feia justamente para ele e nós ainda assim achamos que ele pode resolver tudo. Dele posso dizer que respeitava as antigas religiões, as mulheres, os ricos e pobres, os jovens e velhos. Era médium completo, pois tinha todos os tipos de mediunidade em um só corpo, era muito inteligente também. Não tinha essa beleza que mostram nas pinturas, era bem judeu, cabelo cacheado e negro, para mim era bonito e o acho o máximo.

Ele sabia que não dava para mudar o mundo e fez a parte dele, mas, para os médiuns, não fez muita diferença, pois Jesus estava ali para dar uma acelerada no processo de aperfeiçoamento da mentalidade humana e não para discutir a questão mediúnica. Se ele nascesse nos dias de hoje, o matariam de novo. A idéia de crucificá-lo causou muitos problemas para a raça ocidental. Não tenho como lhe dar o tamanho real do peso que foi gerado pelo ato, mas Herodes mandar matar os recém-nascidos também foi péssima ideia, assim como Hitler mandar matar os judeus na segunda grande guerra. Porém, enquanto nos matamos apenas “entre nós”, fica em família. Matar aqueles que vieram do Outro Lado com uma missão a cumprir não foi educado da nossa parte e estamos pagando por esta falta de tato até hoje.

Depois de Cristo a situação do médium não sofreu modificação. Posteriormente, o mosteiro e o convento se tornaram locais de uma busca diferente que, sem tirar o mérito, não ajudou, diretamente falando, o médium que quisesse buscar equilíbrio para si. Com o cristianismo se espalhando, as comunidades que anteriormente usavam o antigo sistema de suporte social e pessoal ao médium, se tornaram locais de racismo que já era sexual, depois social e por fim religioso. O ser humano aceitou isso da mesma forma como já o tinha feito com o sacrifício humano.

Sobre a Inquisição e suas fogueiras, poucos médiuns foram parar nela. A bem da verdade foi queimado quem era doido, ou inimigo de gente poderosa e os que quiseram falar a verdade, como Galileu Galilei. Médiuns treinados não foram para a fogueira, pois ver o futuro dava algumas vantagens e tempo para fuga, como alguns famosos na Idade Média, tipo Nostradamus, que conseguiu vestir a camisa da mediunidade e escapar antes das consequências se tornarem mortais.

A maioria das mulheres que foram para fogueira caíram por perseguição de algum desafeto que, muito chateado, não conseguiu o premiozinho que queria. Se a Inquisição persistisse, muitos homens teriam mandado sogra, esposa, mulher dos outros que não deu o que queriam e filha que quis dar o que não permitiam, para a fogueira, pois a Inquisição serviu bem para isso.

Nos dias de hoje, médiuns vivem as mesmas dificuldades de sexo, raça, religião, que vi no passado. Talvez um pouco pior porque o racionalismo e a ciência não trouxeram luz sobre o assunto de uma forma que o médium possa sentir diferença na qualidade de vida que tem levado.

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