Costuma-se dizer que religião, futebol e política não se
discute, mas preferi falar sobre religiões nesta parte do trabalho, pois faz
parte da vida de quase todas as pessoas. Se ela é religiosa, por ser religiosa,
se não, será porque os que estão ao redor são religiosos e participará da mesma
forma. Quero que você descubra qual das religiões da Terra é a sua, e nenhuma
delas, por si própria, é ruim. Já disse que isso de bom ou mau não existe, a
maioria está boa ou está ruim. Então, descrevo o que vi de dificuldades para
quem é médium nas religiões que pesquisei.
Quando perguntam para uma pessoa qual a religião dela, a
maioria das pessoas responde que são isso ou aquilo mas não são “praticantes”.
Isso significa que suas culturas familiares pertencem a uma ou outra religião. Muitos
católicos nunca leram a bíblia, muitos espíritas não sabem quantos livros Alan
Kardec escreveu e a maioria dos filhos -de -santo não conhece a simbologia por
trás das lendas sobre os Orixás. Isso não é um problema em si, mas se essas
pessoas não fazem o que dizem, o que farão com você, pobre médium perdido?
No Brasil somos mistura do europeu católico ou
protestante ou judeu, negros de diversas etnias escravizados que
miscigenaram suas crenças criando diversas formas de prática religiosa, mas com
um denominador comum - o culto a um panteão de divindades denominadas Orixás e
os índios, cuja religião foi por nós chamada de xamanismo indígena
brasileiro, ou pajelança (de pajé, o médico da tribo).
Em si, a religião não salva você dos problemas que tem
passado e dos que passará. Ela não resolve problemas normais, nem os
relacionados à mediunidade. O que faz é servir como mais um instrumento de autoconhecimento,
e isso é importantíssimo. Gosto de pessoas que tem uma religião, particularmente,
mas não de pessoas extremistas. O que dificulta é o vício e a forma que a pessoa
professa sua religião. Novamente, não é o objeto em si o problema, mas o que a
pessoa faz dele.
Hoje existem muitas vertentes das religiões acima mencionadas.
É uma faceta da sociedade que sofre mudanças constantes: o cristianismo nasceu
de um judeu e o protestantismo nasceu de um católico e falar sobre temas
filosóficos de cada uma dessas religiões é outro livro. O que interessa é a
relação entre essas religiões e a mediunidade.
Os cristãos aceitam a mediunidade sob mais condições do que
os judeus. Estes os tinham através de profetas e era parte da vida social que
eles andassem na multidão. Se a sociedade aceitava o que era comunicado é outra
história, como exemplo o caso do Rei Acabe não escutar Elias a respeito de
Jezebel. O que me chamou a atenção nos judeus que conheci é que não aceitavam
mais profetas. Amigos que eram médiuns estavam tendo o mesmo problema que
católicos: não eram escutados, nem aceitos e sofriam quando criança. Na
infância, tendo formação católica e recebendo o tratamento que recebia, pensava
que eles, sendo judeus, deveriam ser tratados diferentemente, ou seja, bem tratados,
mas percebi que na escola os olhavam torto por serem judeus, e na família
ocorria o mesmo por serem médiuns, então estavam em pior situação do que eu. Isso,
dos médiuns judeus que conheci até hoje, talvez traga boas notícias até os 90
anos, quando escreverei a continuação deste livro.
Os católicos tem os santos, na sua maioria médiuns, então
era de se esperar que haja uma aceitação, mas como os judeus fazem com profetas,
os santos são coisa do passado e, olha, se você está falando com coisas do
além, guarde para você, tá bom? Esse foi o recado que captei destas duas
religiões baseadas em grandes livros. Então o filme “O Exorcista”
(W.Friedkin, 1971, Warner B.) foi lançado e encheu uma geração inteira de terror. Eu
mesma fiquei grudada no sofá quando vi o filme. Não conseguia me mover pensando
se aquilo poderia acontecer comigo. A cabeça virar e a gente ficar verde e feia
fazendo coisas estranhas com a faca. Porra! O padre mais novo tinha de ser
bonitinho, já imaginou o mico de usar aquela camisolinha horrorosa perto de um
padre bonito? Que droga de vida!
O fato desse tipo de incorporação acontecer (sem cabeças
virando e vômitos que produzem mais volume que o corpo inteiro da pessoa) e
daquele demônio existir não me encheu de tanto medo como a feiura da camisola.
Jesus fez exorcismos e era bom nisso, mas o catolicismo
ficou preso nesse sistema - ou você é santo e faz milagres, ou você tá com o
capeta e tem que ser curado! Como fica o pobre coitado que só vê uns míseros
espíritos e quer tirar um homem chato do sofá da sala? Sabe como é difícil
achar uma pessoa que saiba exorcizar? Nunca concordei com os métodos rudes de
exorcismos. Dificilmente você verá casos assim, e, quando acontecem, o que está
causando a situação tem ligações com o médium que está fora de controle e sem treino.
Quando vi o filme “O Exorcismo de Emily Rose”
(S.Derrickson, 2005, Lakeshore), tive de concordar com a parte em que Emily diz que a
Virgem Maria lhe havia dito que aquilo acontecia para que os humanos se dessem
conta da existência e importância do Outro Lado. Se as pessoas não acreditam na
proximidade entre Mundos, então coloca um capeta furioso numa menina jovem que
veste camisola feia e deixa ver o que é que dá. Vamos concordar que resulta em muita
fofoca, seguido de uma tiragem imensa de livros, depois um filme com
exorbitante bilheteria.
Quanto às religiões que vieram dos negros e índios, puras,
para nós que somos mestiços, não há mais. Hoje você tem uniões de correntes
diversas. Nestas, o médium é o que ocupa papel principal, principalmente o de
incorporação. O tratamento aos médiuns é coisa normal, não uma doença que um “coitado”
carrega. Baseado no fato de que somos unidos ao Outro Lado, eles encaram a
mediunidade como algo óbvio do ser humano possuir, mas ai entra o oposto do
cristianismo e judaísmo - a história do “você tem que se desenvolver”. Isso é
dito tantas vezes, por tanta gente, que fica parecendo duas coisas: que é a
cura para tudo na sua vida, ou que estão querendo se aproveitar de você. Ouvi essa
reclamação de muitas pessoas e vi que o oposto da religião europeia também não
estava tratando o médium como um indivíduo que quer ser normal. Mesmo assim foi
mais fácil encontrar médiuns resolvidos nessas religiões do que nas judaico-cristãs.
Ter de se desenvolver é algo óbvio, mas abrangente demais,
para quem está se virando na vida, no dia a dia. A maioria não quer vestir
roupas estranhas, ou ‘roupa de médico’, para ver resultado na vida real, então
saem destes círculos pior do que entraram porque é mais uma tentativa que se
frustrou. Todo conhecimento que poderia ser adquirido nestas religiões acaba em
nada.
Nas afro-religiões é muito positivo o fato de terem preservado
a antiga estrutura ao redor do médium. Um local onde ele possa ser como os
outros, aonde pessoas sabem lidar com os detalhes de sua condição e outros
médiuns para trocar figurinhas, enquanto doem os calos.
Com os espíritas kardecistas; que também aceitam a
mediunidade como fato real e que tem um tratado sobre todas as variações de
mediunidade, não vi vencerem um problema igual aos cristãos e judeus, que é
limitar as comunicações a seres humanos desencarnados e ‘anjos‘. Os médiuns que
possuem forte ligação com os não humanos são postos de lado ou convidados a só
ouvir comunicações “de nível” seja lá o que isso represente para eles. Novamente
frustrante, pois é um grande potencial dentro de uma garrafa pequenininha. A
pessoa (involuntariamente) médium que procura ser apenas um cidadão normal já
está farta.
Enquanto escrevia este livro, uma pessoa com educação de
alto nível, disse que eu trabalhava coisas do espiritismo... Você não vai se
livrar nunca de duas coisas: ex (s) e pessoas que fazem más colocações. Fazer
uma má colocação, com frases ou posturas, é algo que todos farão uma ou outra
vez na vida, isso faz parte, mas esses mal colocados de carteirinha passada
ninguém merece. O legado de Kardec, sem querer, criou uma palavra genérica para
falar sobre tudo que se relacionasse ao Outro Lado e colocasse várias religiões
em um saco só. ”Mexeu” com espíritos é espiritismo. Isso é como chamar
argentino de brasileiro e uruguaios de mexicanos. O que me impressiona é o
jeito que essa palavra espiritismo é dita por quem a usa, geralmente em tom
pejorativo e, quando em tom de elogio, exalando o medo de quem pronunciou, tipo
Harry Poter quando quer falar o nome de Voldemort enquanto todos o chamam, com
medo, de ‘Você Sabe Quem’.
Tudo que um médium não precisa são brigas e separações, quer
religiosas, quer sociais, quer pessoais, pois ele já está em condição de
segregação há muito tempo. O médium quer solução para o problema na sala. Tipo –
“dá para pular as 30 apostilas que você quer que eu leia e os dois anos de
trabalho no centro das quantas e ir direto ao meu problema do homem na sala”? A
grande e esmagadora maioria dos médiuns que conheci não queria lidar com o
poder, mas queria se sentir normal e aprender a lidar com situações especificas
do dia a dia.
Outro caso bem comum é da criança médium não sentir que a
religião dos pais é aquela que está dentro do seu coração nesta vida e o sofrimento
pelo que vai passar é triste. Como fica a briga dentro de si não aceitando o
que lhe falam, pois o que dizem não condiz com o que praticam? Mamãe diz que só
pode casar uma vez, mas o homem da sala diz que ela casou duas vezes. Sexo
antes do casamento é proibido, mas a criança vê seres que estão longe de
mostrar a mesma coisa. Eles são ensinados como sendo demônios, mas a criança vê
aquelas lindas asas brancas e que são iguais as das imagens de anjos da guarda
que papai comprou de natal.
Gostaria de saber as estatísticas de quantas crianças e
adolescentes fazendo psicoterapia são médiuns, pois deve ser um número alto.
Eles tem o dobro de conflitos dentro de seus corações. Você terá ligações muito
fortes com algumas entidades, por outras apenas respeito e essas ligações serão
postas a prova pelo conflito de informações, causando muita tristeza e o que
esse mundo não precisa é de mais gente infeliz.
Assim como me aconteceu, muitos médiuns veem espíritos muito
estranhos e vão procurar nas religiões (deveriam procurar em arqueologia)
explicação para o que enxergam. Conheci uma cidadã sueca, loira, branquíssima,
olhos azuis, filha de um pastor luterano que via negros escravos ao seu redor
falando de uma religião que nunca ouvira falar. Hoje ela é praticante do vodu.
Não preciso dizer a briga que aconteceu na família dela. Como conseguia ser ‘normal’,
depois de escutar que o demônio tinha tomado conta dela durante toda a
infância, é um mistério para mim, mas acredito em milagres.
A religião deveria ser como roupa, coloque a que lhe agrada
mais e seja feliz. Pratique-a se desejar, mas as convenções sociais serão algo
triste de lidar. Apesar de tudo, acredito em manter grupos sociais, pois o que será
do mundo sem os Quaker, os Mórmons, os judeus ortodoxos, as tias beatas, os nativos
de Nova Guiné, do Canadá e dos aborígenes australianos, entre tantas etnias
maravilhosas que compõe nosso planeta?
Assim sendo, se seu pai é protestante, sua mãe judia, e o
homem na sala é negro, essa história vai ficando cada vez mais interessante. Se
servir de consolo, saiba que a maioria dos adultos está tentando superar os
traumas de infância, mesmo os não médiuns, então pelo menos isso você tem em
comum.
As religiões parecem imutáveis porque tudo o que uma pessoa
precisa, quando em sofrimento ou dificuldade é de algo que dê a sensação de
acolhimento. Quando estamos cansados, gostamos de uma boa cadeira, uma cama
decente, um lugar para apoiar. Não é nada agradável apoiar num muro e ele cair
no seu pé, deitar numa cama e ela ceder, sentar numa cadeira e ela quebrar. Quando
cansados, doentes, queremos a firmeza da pedra, da madeira de lei. A religião
que você escolher deveria ser esse tipo de apoio.
Para nós, religiões parecem eternas e imutáveis, tão antigas parecem
ser. Para algumas pessoas isso é opressivo, mas, para outras, é um suporte
espiritual quando em dor e sofrimento. A religião foi criada para religar as
pessoas e a palavra vem do Latim religare.
Quando estamos cansados procuramos por um grande e confortável sofá para
deitarmos, não um banquinho fraco e duro. Assim sendo, construir um novo templo
nas ruinas de um antigo foi uma boa maneira de fazer populações acreditar na
imutabilidade da religião, sem duvidar da política envolvida com o máximo de
uso dos médiuns disponíveis.
Eu escuto muitas vezes as pessoas dizerem que “não querem
ter nada a ver com religião”. Antes de dizer isso, primeiro você tem que
entender profundamente os métodos da religião. O que isso faz em relação ao
problema com o ‘homem na sala de estar’. Diretamente falando, não muda nada. Na
realidade a religião o fez apenas você perguntar a esse homem, que não está em
posição de responder, sobre o inferno e os seus pecados, não é mesmo?
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