Sítio Santa Helena, 18 de janeiro de
2009. 18:00.
Iniciar algo importante é sempre muito difícil. Se não lhe
parecer difícil, avalie bem, pois pode não ser o inicio e você não ter
percebido. Na minha juventude procurei
resposta para todos os medos e perguntas que tinha. Achei boas coisas, mas
nenhuma me deu tanto alívio como o buraco no meio da Via Láctea.
O planeta Terra caminha para o centro da Galáxia a que pertence.
O centro dela é um buraco negro e, veja só, todos nós caminhamos para lá! Quando
tudo parecer ruim, pesado e o pessimismo tomar conta, lembre-se do buraco negro
no fim do caminho. Você não faz ideia como a depressão cura rápido! A única
coisa que você passa a pensar é: como faço para cair fora daqui. Isso toma seu
tempo e energia, fazendo com que desvie seus pensamentos pessimistas para algo
produtivo como andar na direção contrária ao buraco. Quando algo parecer o fim
do mundo pense que tudo vai mesmo para o buraco e viva sua vida!
A melhor parte deste livro é que só estarei com você quando
quiser. Não serei inoportuna ou inconveniente, pois a minha boa intenção
poderia criar mais conflito do que ajudar. Sei que a sensação de estar só nesta
enrascada é grande e ninguém lhe entende, mas a solidão na hora certa é a
melhor de todas as proteções para muitos males que você verá em sua vida, embora
em outros momentos a solidão seja o único veneno a aumentar a dor.
Então, por que deixar este texto? Porque muitos, antes de
você, sofreram demais; muitos outros, ao seu lado, estão sofrendo e muitos irão
sofrer se todos resolvermos levar a situação do jeito como está. A esta altura,
você já deve ter percebido que a mediunidade é como comer, andar, namorar e
morrer. Embora o ser humano faça tudo isto problematicamente, a maioria dos
membros da nossa raça já age com muito mais sabedoria do que nos milênios
passados.
Não escreverei um manual “siga o mestre”. Você não precisa
disso e não sou mestre em mediunidade, mas sou mestre em sofrer as consequências
boas e ruins que isto traz.
Imagino que quando esteja lendo estas palavras, a questão
sexual humana tenha avançado para melhor, na cabeça dos humanos, e você
perceberá que é muito mais fácil lidar hoje com a sexualidade do que com a
mediunidade. Embora tenha havido uma ‘revolução sexual’ no início da década de
70 do século XX, e embora alguns afirmem que evoluímos à mediunidade humana,
acredite, a segunda parte ainda não aconteceu.
Nasci na parte furiosa dos anos 70, e se você nasceu
posteriormente, aquilo que vê hoje, sexualmente, já foi pior. Não queira saber,
ou lembrar o que era uma mulher mal resolvida antes dessa revolução! Eu rezo
para que, no tempo em que você leia este livro, seja raro encontrar uma pessoa
insatisfeita.
A verdade é que a segregação que envolve esta condição é
mais acirrada que a religiosa, a sexual, a racial e a pior delas, a de classes.
A mediunidade está em situação mais delicada, pois ocorre dentro dos ambientes
social, religioso, racial e sexual, independente de querermos ou não, em
diversos graus. As piores situações de ódio racista podem já estar vindo de
quem você mais ama e admira, ou seja, de quem tem seu mesmo nível social,
cultural, religioso, sexual, pessoas da sua raça e mesmo da sua faixa etária.
A mediunidade se intensifica na adolescência, quando tudo
parece conspirar, desde a menstruação, o seio que dói, o menino mais bonito da
sala que não quer olhar para você (talvez seja o maldito seio que dói, mas que
não cresce o tanto que falta para o bonitão querer olhar), até as chatas
matérias escolares (se você chegar ao fim do livro antes do ensino médio, vai
olhar a física e a química com outros olhos). Se você veio ao mundo como um
lindo menino, tem tanto para se preocupar quanto uma menina, pois você quer ver
os seios, mas eles estão demorando a crescer nas moças e as mais velhas não querem
dar atenção pra pirralhos.
Só estas coisas já seriam suficientes para a vida estar
parecendo um mau negócio, e tem o tal homem na sala, que só você vê, dizendo
que tem uma coisa errada e enchendo o seu saco toda noite. Quando você tenta
falar com os seus amigos, ou mesmo sua família, vem a gozação comparativa com a
m#** daquele filme do m#**inha que vê gente morta. Por isso você fica sendo “a
que vê gente morta”. Não resolveu o problema do homem na sala, nem o seu, nem o
do filme (parece que ninguém o usou como exemplo de respeito) e a questão dos
peitos continua igual. Então o que Bernardo leva na história? NADA.
Por isso a maioria abandona sua mediunidade e sugere que os
outros também o façam. Porém, não há como abandoná-la, pois não é parte externa
que se possa cortar. Conheço uns estranhos que, se dissessem que o’ bilau’
fosse a antena da mediunidade já o teriam cortado, num acesso de raiva. Deus é,
de fato, sábio em esconder a tal antena.
Por que vou falar sobre sexo, se não é o assunto principal?
O sexo é 10 000 vezes mais falado e praticado do que a mediunidade e posso usá-lo
como comparação. Por exemplo: o instrumento principal para fazer sexo fica na
ponta de baixo do tronco, mas não usa só ele não! Usa o corpo todo, sendo homem
ou mulher, meu amor, usa tudo tá! A mediunidade fica na ponta de cima, cujo
instrumento principal está no cérebro, e, MUITO IMPORTANTE, sem uma pratica
sexual com qualidade, sua mediunidade vai dar problema, mais problema que o
normal.
É necessário, em tudo o que você pesquisar, perguntar ou
tiver de escutar de alguém, mesmo sem ter pedido, que CONSIDERE A FONTE. Sempre
leve em consideração quem está falando e sobre o quê. Qualquer dado sobre o
fulano ou fulana interessa. Mesmo Platão, se desse pra sabermos a cor dos seus olhos,
interessaria. É claro que a história dele interessa, e o que ele produziu mais
ainda.
Dou um exemplo do que seria CONSIDERAR A FONTE: um encanador
pode falar sobre filosofia, talvez seja até a encarnação de Platão, por que
não? Mas se ele quiser falar sobre como uma mulher deve se vestir, e tudo que
ele fala está estonteantemente démodé,
considere a fonte e avalie. Ele é travesti? Está tendo problemas com sua mulher?
Está de gozação com a sua roupa? Você vai escutar seus conselhos, neste assunto,
ou não? Se vai escutá-lo, é porque é como ele e ninguém tem nada com isso. Não
foi ele, mas sim você que foi lembrada de uma condição sua.
Vai ficar feio se você chegar ao trabalho com aquela saia, ou
calça, que parece uma piada e todo mundo perguntar “o que é isso?” e você
disser que o encanador escolheu pra você. Vai dar bode, você não precisa ser
médium pra saber isso. Mas, se você chegar ao mesmo escritório, falando que resolveu
seu problema existencial, está de bem com tudo e o milagre veio de um encanador
que era o bicho na filosofia, que sabia até nomear as obras todas da
antiguidade, vai ficar bonito toda vida.
Depois de falar tudo isso, vou lhe dar alguns dados para
avaliar o tipo de fonte que sou. Não escreverei um capitulo inteiro sobre minha
biografia pois não sou pessoa importante, nem tão velha, que tenha tanto para
falar.
Nasci em junho de 1971, primeira filha, neta e bisneta de uma
família que misturou tudo: brasileiro quatrocentão- uma avó. Italianos do norte
da Itália - outra avó. Um avô húngaro e um avô do sul da Itália. Fui filha de
uma concepção indesejada, meus pais ficaram casados por 11 anos. Tenho uma irmã
e um irmão mais novos. Não conheci meu avô húngaro, mas amei meus outros avós
como a meus pais, até mais. Meu pai era economista e minha mãe enfermeira, fui
a “coisinha fofa” da família, mas, diga-se de passagem, que queriam muito era
um menino. Fui destronada quando nasceu minha irmã e, definitivamente, quando nasceu
meu irmão mais novo, o “queridinho da família”, que era fofinho mesmo. Nas
férias havia muitos primos para brincar.
Tive uma infância onde as boas recordações predominaram, mas
onde havia dois mundos que eram regidos pelo mesmo fator, a mediunidade e suas consequências.
Tinha amigos normais, pois tive uma “turma da rua”, na época onde uma criança
só ficava dentro de casa quando estava de castigo. Esses amigos não me julgavam
estranha, mas usava o recurso de dizer “tenho que ir para casa” quando sentia
que o Outro Lado me chamava. Na escola não podia me ausentar. Isso fez com que
as outras crianças percebessem que era diferente e tivessem mais tempo para me
julgar.
Querer ficar sozinha boa parte do recreio não ajudava a
melhorar a situação. Eu não tinha recursos verbais para sequer explicar a
necessidade de precisar ficar só para me “limpar” das energias que absorvia dos
colegas e professores. Sorte minha ter estudado até o 8º ano em um colégio com muita
vegetação e espaço. Em qualquer lugar aonde haja verde há elementais e eles já
sabiam do meu problema, ajudando-me na hora do recreio.
Mesmo sendo crianças, meus colegas traziam muita coisa de
casa, pois elas e os velhos têm uma facilidade maior para receber energias
perversas. Essas “coisas” que traziam de casa eram atraídas por mim,
involuntariamente.
No início da adolescência, as tristes situações que ocorrem
nessa idade, como a mudança dos hormônios, ampliavam-se por estarem envoltas em
questões espirituais que não conseguia resolver. Quando o sofrimento aumentava por falta de ter com quem falar era a hora que me
sentia pior. Demorou muito para aparecer alguém com capacidade para responder às
perguntas que conseguia verbalizar, pois muitas delas ainda não podia nem
formular a mim mesma, muito menos para os outros. Infelizmente, não posso
afirmar que essa pessoa me fez aprender por bem e, sim, pelo mal que me causou.
O fato de estar desesperada para compreender o que estava ocorrendo fez com que
o primeiro que apareceu fosse o “qualquer um” que o desespero atrai.
A adolescência foi muito sofrida pela separação dos meus pais e por tudo
o que me levou a querer escrever. Entrei para a Faculdade de Historia da
Universidade de São Paulo e só não completei o curso porque um amor maior
apareceu na hora espiritual certa, porém cedo demais para a matéria. Não subestime
o poder do amor. Eros, ou Cupido, era o deus mais temido por todos mortais e
imortais. Hoje a medicina provou o que os apaixonados já sabiam há milênios que
a área do cérebro onde fica ativada a paixão é a correspondente à tomada de
decisões. O efeito que a paixão provoca na pessoa é comparável às medicações
que a proíbem de dirigir e atuam, inclusive, nas decisões mais complexas.
Casei com esse amor e dele nasceram mais três amores e, logo
após, adveio o divórcio que foi causado por queixas comuns a casais que se
separam, mas, principalmente, por que a questão mediúnica ainda não estava bem
desenvolvida por mim naquela época. O que não consegui destruir no casamento
outros médiuns que estavam envolvidos na minha vida e que eram tão mal
trabalhados quanto eu, conseguiram. Tudo que é importante para você trás perdas
e sacrifícios, inclusive coisas boas que serão colocadas nesse altar e
sacrificadas antes que você perceba.
Nasci na grande cidade de São Paulo, mas, ao tempo que este
livro era escrito, morava há dezoito anos na área rural mineira. Gosto de não
estar cercada por muitas pessoas todo tempo, mas alguns animais vão bem como
companhia. Pratico a dança, a costura o estudo de línguas, física química e
todas as ciências me interessam.
A história que daria uma boa imagem da minha vida é uma
lenda dos nativos hopi, tribo norte-americana, que se autodenominava tribo do
urso: uma índia viu certo dia, uma ursa na floresta que estava muito doente.
Resolveu, então, levá-la para sua cabana. Como não fizesse idéia do mal que a
acometia, achou que iria morrer. Todavia ela levantou-se e disse à índia para ir
buscar tal e tal erva e fizesse um medicamento que, e em dez dias, ela ficaria
bem. A índia obedeceu e de fato a ursa melhorou, mas logo em seguida ficou
doente e de uma forma horrorosa. Mesmo gravemente enferma, a ursa disse à índia
para procurar outras ervas e adotar outros procedimentos e então melhorou.
História vai, história vem, depois de muitas outras enfermidade e recuperações,
a ursa disse-lhe que o aprendizado que lhe passara estava completo e que iria
embora. Levantou-se e saiu pela mesma porta que entrara doente e nunca mais foi
vista.
A moral da história é que a Ursa Sagrada ensinou tudo o que
os hopi tinham de sabedoria, mas fico imaginando o espanto da índia. Todo
sofrimento pelo qual passou, limpando vômito, curando chagas da ursa e, um belo
dia, que já ia tarde, a ursa levantou-se e foi embora.
Minha vida tem sido tão maluca, que algumas pessoas se
surpreendem de eu ainda estar viva e razoavelmente bem no que diz respeito à
saúde mental. A sensação que tenho quando coisas me acontecem e lembro-me da
história da ursa, é da cara de tacho da índia quando a ursa levantou-se e foi
embora. Consta, ainda, sobre a lenda que a índia teve uma experiência de êxtase
e se tornou uma grande sábia...assim esperamos.
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