Saturday, December 9, 2023

Introdução

 

Sítio Santa Helena, 18 de janeiro de 2009. 18:00.

Iniciar algo importante é sempre muito difícil. Se não lhe parecer difícil, avalie bem, pois pode não ser o inicio e você não ter percebido.  Na minha juventude procurei resposta para todos os medos e perguntas que tinha. Achei boas coisas, mas nenhuma me deu tanto alívio como o buraco no meio da Via Láctea.

O planeta Terra caminha para o centro da Galáxia a que pertence. O centro dela é um buraco negro e, veja só, todos nós caminhamos para lá! Quando tudo parecer ruim, pesado e o pessimismo tomar conta, lembre-se do buraco negro no fim do caminho. Você não faz ideia como a depressão cura rápido! A única coisa que você passa a pensar é: como faço para cair fora daqui. Isso toma seu tempo e energia, fazendo com que desvie seus pensamentos pessimistas para algo produtivo como andar na direção contrária ao buraco. Quando algo parecer o fim do mundo pense que tudo vai mesmo para o buraco e viva sua vida!

A melhor parte deste livro é que só estarei com você quando quiser. Não serei inoportuna ou inconveniente, pois a minha boa intenção poderia criar mais conflito do que ajudar. Sei que a sensação de estar só nesta enrascada é grande e ninguém lhe entende, mas a solidão na hora certa é a melhor de todas as proteções para muitos males que você verá em sua vida, embora em outros momentos a solidão seja o único veneno a aumentar a dor.

Então, por que deixar este texto? Porque muitos, antes de você, sofreram demais; muitos outros, ao seu lado, estão sofrendo e muitos irão sofrer se todos resolvermos levar a situação do jeito como está. A esta altura, você já deve ter percebido que a mediunidade é como comer, andar, namorar e morrer. Embora o ser humano faça tudo isto problematicamente, a maioria dos membros da nossa raça já age com muito mais sabedoria do que nos milênios passados.

Não escreverei um manual “siga o mestre”. Você não precisa disso e não sou mestre em mediunidade, mas sou mestre em sofrer as consequências boas e ruins que isto traz.

Imagino que quando esteja lendo estas palavras, a questão sexual humana tenha avançado para melhor, na cabeça dos humanos, e você perceberá que é muito mais fácil lidar hoje com a sexualidade do que com a mediunidade. Embora tenha havido uma ‘revolução sexual’ no início da década de 70 do século XX, e embora alguns afirmem que evoluímos à mediunidade humana, acredite, a segunda parte ainda não aconteceu.

Nasci na parte furiosa dos anos 70, e se você nasceu posteriormente, aquilo que vê hoje, sexualmente, já foi pior. Não queira saber, ou lembrar o que era uma mulher mal resolvida antes dessa revolução! Eu rezo para que, no tempo em que você leia este livro, seja raro encontrar uma pessoa insatisfeita.

A verdade é que a segregação que envolve esta condição é mais acirrada que a religiosa, a sexual, a racial e a pior delas, a de classes. A mediunidade está em situação mais delicada, pois ocorre dentro dos ambientes social, religioso, racial e sexual, independente de querermos ou não, em diversos graus. As piores situações de ódio racista podem já estar vindo de quem você mais ama e admira, ou seja, de quem tem seu mesmo nível social, cultural, religioso, sexual, pessoas da sua raça e mesmo da sua faixa etária.

A mediunidade se intensifica na adolescência, quando tudo parece conspirar, desde a menstruação, o seio que dói, o menino mais bonito da sala que não quer olhar para você (talvez seja o maldito seio que dói, mas que não cresce o tanto que falta para o bonitão querer olhar), até as chatas matérias escolares (se você chegar ao fim do livro antes do ensino médio, vai olhar a física e a química com outros olhos). Se você veio ao mundo como um lindo menino, tem tanto para se preocupar quanto uma menina, pois você quer ver os seios, mas eles estão demorando a crescer nas moças e as mais velhas não querem dar atenção pra pirralhos.

Só estas coisas já seriam suficientes para a vida estar parecendo um mau negócio, e tem o tal homem na sala, que só você vê, dizendo que tem uma coisa errada e enchendo o seu saco toda noite. Quando você tenta falar com os seus amigos, ou mesmo sua família, vem a gozação comparativa com a m#** daquele filme do m#**inha que vê gente morta. Por isso você fica sendo “a que vê gente morta”. Não resolveu o problema do homem na sala, nem o seu, nem o do filme (parece que ninguém o usou como exemplo de respeito) e a questão dos peitos continua igual. Então o que Bernardo leva na história? NADA.

Por isso a maioria abandona sua mediunidade e sugere que os outros também o façam. Porém, não há como abandoná-la, pois não é parte externa que se possa cortar. Conheço uns estranhos que, se dissessem que o’ bilau’ fosse a antena da mediunidade já o teriam cortado, num acesso de raiva. Deus é, de fato, sábio em esconder a tal antena.

Por que vou falar sobre sexo, se não é o assunto principal? O sexo é 10 000 vezes mais falado e praticado do que a mediunidade e posso usá-lo como comparação. Por exemplo: o instrumento principal para fazer sexo fica na ponta de baixo do tronco, mas não usa só ele não! Usa o corpo todo, sendo homem ou mulher, meu amor, usa tudo tá! A mediunidade fica na ponta de cima, cujo instrumento principal está no cérebro, e, MUITO IMPORTANTE, sem uma pratica sexual com qualidade, sua mediunidade vai dar problema, mais problema que o normal.

É necessário, em tudo o que você pesquisar, perguntar ou tiver de escutar de alguém, mesmo sem ter pedido, que CONSIDERE A FONTE. Sempre leve em consideração quem está falando e sobre o quê. Qualquer dado sobre o fulano ou fulana interessa. Mesmo Platão, se desse pra sabermos a cor dos seus olhos, interessaria. É claro que a história dele interessa, e o que ele produziu mais ainda.

Dou um exemplo do que seria CONSIDERAR A FONTE: um encanador pode falar sobre filosofia, talvez seja até a encarnação de Platão, por que não? Mas se ele quiser falar sobre como uma mulher deve se vestir, e tudo que ele fala está estonteantemente démodé, considere a fonte e avalie. Ele é travesti? Está tendo problemas com sua mulher? Está de gozação com a sua roupa? Você vai escutar seus conselhos, neste assunto, ou não? Se vai escutá-lo, é porque é como ele e ninguém tem nada com isso. Não foi ele, mas sim você que foi lembrada de uma condição sua.

Vai ficar feio se você chegar ao trabalho com aquela saia, ou calça, que parece uma piada e todo mundo perguntar “o que é isso?” e você disser que o encanador escolheu pra você. Vai dar bode, você não precisa ser médium pra saber isso. Mas, se você chegar ao mesmo escritório, falando que resolveu seu problema existencial, está de bem com tudo e o milagre veio de um encanador que era o bicho na filosofia, que sabia até nomear as obras todas da antiguidade, vai ficar bonito toda vida.

Depois de falar tudo isso, vou lhe dar alguns dados para avaliar o tipo de fonte que sou. Não escreverei um capitulo inteiro sobre minha biografia pois não sou pessoa importante, nem tão velha, que tenha tanto para falar.

Nasci em junho de 1971, primeira filha, neta e bisneta de uma família que misturou tudo: brasileiro quatrocentão- uma avó. Italianos do norte da Itália - outra avó. Um avô húngaro e um avô do sul da Itália. Fui filha de uma concepção indesejada, meus pais ficaram casados por 11 anos. Tenho uma irmã e um irmão mais novos. Não conheci meu avô húngaro, mas amei meus outros avós como a meus pais, até mais. Meu pai era economista e minha mãe enfermeira, fui a “coisinha fofa” da família, mas, diga-se de passagem, que queriam muito era um menino. Fui destronada quando nasceu minha irmã e, definitivamente, quando nasceu meu irmão mais novo, o “queridinho da família”, que era fofinho mesmo. Nas férias havia muitos primos para brincar.

Tive uma infância onde as boas recordações predominaram, mas onde havia dois mundos que eram regidos pelo mesmo fator, a mediunidade e suas consequências. Tinha amigos normais, pois tive uma “turma da rua”, na época onde uma criança só ficava dentro de casa quando estava de castigo. Esses amigos não me julgavam estranha, mas usava o recurso de dizer “tenho que ir para casa” quando sentia que o Outro Lado me chamava. Na escola não podia me ausentar. Isso fez com que as outras crianças percebessem que era diferente e tivessem mais tempo para me julgar.

Querer ficar sozinha boa parte do recreio não ajudava a melhorar a situação. Eu não tinha recursos verbais para sequer explicar a necessidade de precisar ficar só para me “limpar” das energias que absorvia dos colegas e professores. Sorte minha ter estudado até o 8º ano em um colégio com muita vegetação e espaço. Em qualquer lugar aonde haja verde há elementais e eles já sabiam do meu problema, ajudando-me na hora do recreio.

Mesmo sendo crianças, meus colegas traziam muita coisa de casa, pois elas e os velhos têm uma facilidade maior para receber energias perversas. Essas “coisas” que traziam de casa eram atraídas por mim, involuntariamente.

No início da adolescência, as tristes situações que ocorrem nessa idade, como a mudança dos hormônios, ampliavam-se por estarem envoltas em questões espirituais que não conseguia resolver. Quando o sofrimento aumentava por falta de ter com quem falar era a hora que me sentia pior. Demorou muito para aparecer alguém com capacidade para responder às perguntas que conseguia verbalizar, pois muitas delas ainda não podia nem formular a mim mesma, muito menos para os outros. Infelizmente, não posso afirmar que essa pessoa me fez aprender por bem e, sim, pelo mal que me causou. O fato de estar desesperada para compreender o que estava ocorrendo fez com que o primeiro que apareceu fosse o “qualquer um” que o desespero atrai.

A adolescência foi muito sofrida pela separação dos meus pais e por tudo o que me levou a querer escrever. Entrei para a Faculdade de Historia da Universidade de São Paulo e só não completei o curso porque um amor maior apareceu na hora espiritual certa, porém cedo demais para a matéria. Não subestime o poder do amor. Eros, ou Cupido, era o deus mais temido por todos mortais e imortais. Hoje a medicina provou o que os apaixonados já sabiam há milênios que a área do cérebro onde fica ativada a paixão é a correspondente à tomada de decisões. O efeito que a paixão provoca na pessoa é comparável às medicações que a proíbem de dirigir e atuam, inclusive, nas decisões mais complexas.

Casei com esse amor e dele nasceram mais três amores e, logo após, adveio o divórcio que foi causado por queixas comuns a casais que se separam, mas, principalmente, por que a questão mediúnica ainda não estava bem desenvolvida por mim naquela época. O que não consegui destruir no casamento outros médiuns que estavam envolvidos na minha vida e que eram tão mal trabalhados quanto eu, conseguiram. Tudo que é importante para você trás perdas e sacrifícios, inclusive coisas boas que serão colocadas nesse altar e sacrificadas antes que você perceba.

Nasci na grande cidade de São Paulo, mas, ao tempo que este livro era escrito, morava há dezoito anos na área rural mineira. Gosto de não estar cercada por muitas pessoas todo tempo, mas alguns animais vão bem como companhia. Pratico a dança, a costura o estudo de línguas, física química e todas as ciências me interessam.

A história que daria uma boa imagem da minha vida é uma lenda dos nativos hopi, tribo norte-americana, que se autodenominava tribo do urso: uma índia viu certo dia, uma ursa na floresta que estava muito doente. Resolveu, então, levá-la para sua cabana. Como não fizesse idéia do mal que a acometia, achou que iria morrer. Todavia ela levantou-se e disse à índia para ir buscar tal e tal erva e fizesse um medicamento que, e em dez dias, ela ficaria bem. A índia obedeceu e de fato a ursa melhorou, mas logo em seguida ficou doente e de uma forma horrorosa. Mesmo gravemente enferma, a ursa disse à índia para procurar outras ervas e adotar outros procedimentos e então melhorou. História vai, história vem, depois de muitas outras enfermidade e recuperações, a ursa disse-lhe que o aprendizado que lhe passara estava completo e que iria embora. Levantou-se e saiu pela mesma porta que entrara doente e nunca mais foi vista.

A moral da história é que a Ursa Sagrada ensinou tudo o que os hopi tinham de sabedoria, mas fico imaginando o espanto da índia. Todo sofrimento pelo qual passou, limpando vômito, curando chagas da ursa e, um belo dia, que já ia tarde, a ursa levantou-se e foi embora.

Minha vida tem sido tão maluca, que algumas pessoas se surpreendem de eu ainda estar viva e razoavelmente bem no que diz respeito à saúde mental. A sensação que tenho quando coisas me acontecem e lembro-me da história da ursa, é da cara de tacho da índia quando a ursa levantou-se e foi embora. Consta, ainda, sobre a lenda que a índia teve uma experiência de êxtase e se tornou uma grande sábia...assim esperamos.

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