Decidi colocar essas histórias para que você pudesse avaliar
o que é uma comunicação e o impacto que pode causar. Cada pessoa reage de forma
diferente a uma comunicação. Descreverei a minha reação na época e a opinião
que tenho sobre o assunto ao tempo que escrevo este livro.
Um belo dia, que não lembro se foi normal, ruim ou bom, pois
esses avisos vêm a qualquer hora e local, soube que iria ter um filho. Estava
me preparando para dormir, era dia de semana e teria aula no dia seguinte. Escutei
uma voz, sem ver ninguém, que dizia: “esteja pronta, a criança está a caminho”.
Com 19 anos, sem emprego, cursando a faculdade, e pior, sem namorado (pior
ainda, sem “aquele” namorado que você pensaria em ter filhos com), é o tipo de
notícia para se receber? É o mesmo impacto que estar sentado na frente da
televisão naquele domingo zen demais, sem grana, só coçando, e vem uma pessoa
que você nunca viu falando algo do tipo: “levanta que você vai pegar um avião
para a Etiópia ser voluntária num campo de refugiados”.
Para mim era mais fácil acreditar na segunda história. Como
era do tipo precavida, mas burra, em vez de contestar a comunicação, pensei: “Pô!
Que legal, vou ser mãe! Como faço sem um homem? Puxa, vou arranjar emprego
sério para poder sustentar a garotinha que vem vindo (eu queria uma menina,
porque dá menos trabalho), mas como vai acontecer se eu não estou afim de
ninguém? Acho que vai ser numa festa, vou estar bêbada e vai ser um qualquer,
então acho melhor comprar umas camisinhas, colocar na pasta, na bolsa, na bolsa
de festa, assim não esqueço de levar. É, mas se vou ficar grávida, não estarei
usando camisinha...acho bom procurar um emprego de verdade...”.
Passei a noite toda pensando nos detalhes e não no
principal: quem será o pai? Como as famílias vão receber a notícia? Quais consequências
vão advir dessa situação? Será que é justo acontecer agora que sou tão jovem e
cursando a faculdade? Acredite, além da minha pouca idade, eu estava em uma
condição de infinita ingenuidade. Hoje, mais rodada, responderia educadamente
para irem emprenhar a mãe do capeta e andaria com calcinha de ferro e cadeado,
verdadeiro cinto de castidade, cuja chave daria para o meu pai cuidar.
A hora do nascimento, da morte, quantidade de filhos que
você vai ter e doenças é algo que não dá para mudar sem provocar consequências
sérias, mas seu livre arbítrio pode interferir como num tipo de negociação.
Nesse caso eu poderia ter adiado o assunto para uns anos à frente e cuidar de
outros destinos igualmente importantes. Isso poderia ser feito. Eu faria uma
reunião com os encarregados da reencarnação do Outro Lado e pediria para saber
quem era o pai, objeto principal, e que tipo de sofrimento poderia estar
envolvido, mas não foi o que fiz.
O pai dos meus filhos apareceu, dois anos depois do aviso,
que foi sendo repetido regularmente, como uma bomba que está para explodir:
“está chegando, prepare-se”, “está quase lá, faça sua parte”, até que
engravidei. Uma das coisas que me faz pensar hoje na violência do que senti
pelo pai dos meus filhos, foi uma ajudinha do Outro Lado para que estivesse tão
cega que esquecesse de mim mesma e o destino fizesse seu caminho. Não se foge
do destino, mas se uma situação tão importante como essa vier a lhe acontecer,
não se deixe alterar pelos avisos. Curta o empurrãozinho que as entidades vão
dar, saboreie o doce momento o mais possível, para quando for hora de viver o
amargo, não lhe pareça tão ruim. Não, os filhos não são um problema, mas os ‘extras’
que vem junto a gente amarga o resto da vida.
Poucas vezes os avisos vem para dizer “hoje vai passar um
filme bom no cinema” e mesmo quando avisem “você vai a um cinema esta semana,
com um homem que vai ser muito importante na sua vida”, cuidado, não é um caso
à toa. Leve a sério, ponha a barbicha de molho, a calcinha de ferro com
cadeado, a chave com o papai, e desafie o destino. Se der no que tinha que dar,
nas contas do destino, pelo menos você protestou.
Durante o rascunho deste livro, passei por um dos momentos
mais difíceis que já tinha passado, pois envolvia uma comunicação de grande
porte a vida de muitas pessoas que amo e muitas outras que viriam a entrar em
minha vida. Gostaria que você, leitor, comparasse as diferenças entre as duas
situações e as formas que reagi.
Uns três anos depois de separada, no meio de uma época onde
estava exausta física e emocionalmente, comecei a receber mensagens
conflitantes, que são um problema sério em comunicação, sobre dívidas e um
prazo que não tinha cumprido. Ainda não havia me recuperado do trauma que o
divórcio quase sempre é e recebia mensagens de dívidas que não tinha pago na
época do casamento! Agora, na dúvida, sempre protesto, então pensei: “mas que
droga! Por que me fazer sentir pior do que já estava? Será que era eu mesma
fazendo uma projeção de culpas? Será uma comunicação verdadeira, sem mistura de
conflito pessoal no meio?”.
Comecei a perder a paciência, com a insistência das
mensagens, e tentei ignorá-las, dizendo a mim mesma que era louca, que escutava
vozes à toa e que ia largar esse negócio todo. É normal essas crises acontecerem
vez por outra, acostume-se com isso. Quando parei de reclamar e calmamente avaliei
a fonte, vi que era uma comunicação muito mais importante do que imaginava,
pois falei para os primeiros que vieram dar a mensagem, irem falar com a p*!@
que os pariu, aproveitando para descontar o mau dia que estava tendo e o
privilégio de não ser mais uma médium ‘estagiária’. Depois, o chefe dos que
mandei embora veio falar comigo, seguido de mais palavras nada suaves, depois o
chefe do chefe, depois o chefe geral, depois uns anjos com armadura, e a
situação foi complicando, por isso repito, ouça o que os primeiros querem falar
e diga, sim, senhor, que é mais fácil se livrar deles! Por fim compreendi,
depois de três anos mandando embora o mensageiro, o que era tão sério que
haviam de mandar tanta gente para falar sobre o assunto. Estou esperando mais
instruções. Daqui 40 anos conto no que é que deu essa história, pois ainda está
em negociação.
Certa vez, vendo minha avó chorar pela enésima vez, sobre
algo nem tão sério, perguntei à minha mãe por que a vovó chorava tanto, já que
uma pessoa velha deveria saber mais da vida e ser mais forte. Minha mãe
respondeu que era o contrário, que quem sabe mais da vida também sabe no que a
situação vai dar, e essas pessoas sofrem e podem chorar mais. È verdade, choro
muito mais hoje que quando mais nova e não tinha conhecido a morte, a separação
e a dor da perda, mas não tenha medo, o choro sincero é poderoso purificador, é
uma prece maravilhosa, pois reza o que a alma sente em primeira mão e, na pior
das hipóteses, limpa o seu nariz e seus olhos. Ali também aprendi que é melhor
negociar do que encetar uma briga em se tratando Deles.
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