Eu poderia encurtar o livro e dizer que não dá para nos entender,
que não há esperança, mas assim como a mediunidade, a presença de outros não é
algo que dê para não ter, a não ser que você tenha nascido no mato e abandonado
para que os lobos o criassem. Sorte sua, mas ai você não vai estar lendo este
livro, então não preciso me preocupar em escrever para quem nasceu no mato dos
lobos.
O nós que eu quero que você tente entender é para que, se
precisar ajudar alguém, tenha uma base para AVALIAR A FONTE. Como o médium é um
telefonista, basicamente, é bom que ele saiba quem está numa ponta da linha e
na outra, então é do seu interesse conhecer os dois lados.
O ser humano normal era aquele que nascia, crescia, caçava,
comia, namorava, criava as crias, brigava, se machucava, ficava doente, se
recuperava, ou não e morria. Não colocava adjetivo nenhum em nada. O pôr do sol
o deixava abismado, mas não era um pôr do sol sangrento ou primaveril, era pôr
do sol e pronto, ele ia dormir que ganhava mais. Mulher e homem eram coisas boas,
não era mulher estranha, mulher feia, homem das outras, homem imprestável. É
tão remoto esse tempo que parece que não estamos falando da mesma raça.
Muita coisa que você vê no comportamento humano é decorrente
da seleção natural, embora haja uma briga grande entre quem gosta e quem não
gosta dessa idéia. Os lobos que caçavam sozinhos tinham bem menos chance de
sobrevivência que os que caçavam em grupo. Os hominídeos que se agruparam
sobreviveram e o que determinou a nossa sobrevivência foi a inteligência. Os
Neandertais eram mais corpo que cabeça, mas vou contar uma fofoca: o que fez o
homo-sapiens vencer não foi a inteligência, foi o fato de que ele gostava de
eliminar aquilo que não entendia e o Neandertal achou que era legal conhecer
gente nova no pedaço. Não foi uma boa idéia, alem disso, as mulheres deles não
eram agradáveis aos olhos dos homo-sapiens como as nossas índias foram aos
homens brancos. Nessa época do encontro das duas raças o inferno humano foi
aberto no quintal do Abaixo. Tente entender por que: Caim matou Abel, ele devia
se achar mais bonito e mais inteligente. Se ele tivesse ficado no canto dele a
gente teria agradecido.
Então, depois do mental, as reações emocionais as situações
de sobrevivência social, ou seja, o jeito que o humano reagia as coisas que
sentia, foi o que determinou sua sobrevivência ou morte. Como o grupo tinha
mais chances unido, foi necessário estabelecer regras de sociedade e as reações
a essas regras foi mais um passo para o que você ainda vai ver hoje. Um exemplo
clássico é o direito a propriedade, que se estendeu em como ter certeza que o
meu filho vai herdar a minha propriedade e não o filho dos outros?
No dia que você ganhar seu dinheirinho suado, vai entender o
que é a preocupação em quem vai gasta-lo. Esse sentimento criou um dilema
social: como o pai poderia ter certeza que o filho era dele e não de outro? A
mulher sabe se aquela criança saiu dela ou não, mas o sistema patriarcal não
podia dar essa certeza. Calígula, imperador romano, colocou uma coleira, que
segurava pela corrente dia e noite, na imperatriz, pelo tempo que ela levou
para engravidar. Assim ele teve certeza que o filho era dele. Ele foi bruto, mas
agiu às claras. O resto teve uma idéia mais sutil, colocar a fidelidade
conjugal como virtude da mulher. Fazê-la acreditar, por bem ou descendo o
cacete, que isso era certo e benéfico.
Esse comportamento social foi importante para manter a união
dos grupos, e teve sua importância, mas no passado. Hoje, estamos em processo
de mudança, e ninguém sabe o que vai ser o amanhã. Regras sociais estão ainda
em desconstrução. Porém, você pode estar vendo pessoas que ainda estão com a
cabeça sendo comandada pelas regras de ontem, pelo condicionamento social, pelo
comportamento que nos fez ser homo-sapiens. Isso não está errado, mas não está
sempre certo quanto ao que a pessoa sente. São milênios de pessoas dizendo umas
as outras o que é certo e errado, usando a frase - eu sei o que é melhor para
você - para se fazer entender. Na realidade somos os cachorrinhos mais bem
treinados do Universo, só que quem olha de fora se pergunta o que eles estão
fazendo, pois esse treino não está mostrando mais objetivo nenhum.
Esse foi um exemplo radical. Prefiro dizer, quando vejo meu
comportamento sendo fruto do condicionamento e não daquilo que acredito, que me
recuso a ser um cachorro bem treinado, mas uma pessoa bem informada, fazendo
minhas próprias escolhas. A maioria das pessoas com as quais terá contato,
possivelmente até você mesmo ainda esteja nesse estágio de cachorrinho treinado
sem causa. Mesmo se revoltar é 90% das vezes resultado de um condicionamento
anterior? Até para mudar o mundo seguimos velhos condicionamentos que salvaram
a raça da extinção.
Então, isso é bom não? Salvar a raça da extinção? Não, se a
pessoa que está a sua frente está como que em piloto automático, tipo trilho de
trem. Ela nem sabe se quer isso ou aquilo, ela acha, apenas acha, e isso sim me
dá calafrios (imagine o motorista do trem dizer que acha que está na direção
certa). Disso eu lhe falo: tenha medo daqueles que não se conhecem. Não dá nem
para dizer que eles são traiçoeiros, pois só trai aquele que tem principio
próprio, direção própria, código de conduta próprio, não aquele que acha que
tem, ou que tem apenas porque os outros disseram.
Assim, ao falar com um humano encarnado, o certo talvez
fosse ter diploma em psicologia, filosofia, doutorado em estrutura do
pensamento e mecanismos cerebrais, também um montante de coisas que não vai dar
para aprender em uma vida. Faça diferente, olha para a pessoa à sua frente e
SINTA. Foi bom o que sentiu?
Se o que você sentiu não foi bom, descasque a situação como
uma cebola, para compreender o porquê. Será que essa pessoa foi um inimigo? Será
que está doente fisicamente, ou tem desequilíbrios de outros tipos? Inveja,
ciúmes, ódio, são sentimentos comuns, mas em circunstâncias razoavelmente
“normais”. Sentir inveja daquele vestido azul da garota e depois ir a loja e
comprar um para si é normal. Sentir ódio de quem nos maltratou e depois ir ao
cinema tentar esquecer, é bem comum, mas pessoas que estão sempre com cara
virada e não estão passando fome, tem algum desequilíbrio. Os antigos chineses
acreditavam que pessoas com mau humor constantes estavam com desequilíbrio
físico e a medicina ocidental está provando isso.
Acredite no seu instinto, depois de ver que não é fruto de nenhum
condicionamento, pois uma pesquisa quis saber se a primeira impressão de quem tinha
cometido um crime, para o policial, era relevante. Se o palpite dele era
acertado ou não. Os pesquisadores se surpreenderam com 90% das vezes o policial
ter acertado em quem era o assassino.
Não que você tenha há ver com todo tipo de problema que uma
pessoa tenha, mas se o cidadão a sua frente é alguém que não dá para contornar,
encare e descasque a cebola. Principalmente os aspectos que podem lhe ferir,
mas para isso você tem que se conhecer muito bem. Para poder dizer essa
situação eu encaro aquela com condições e esta aqui nem em sonho. Um exemplo
disso é a ‘pessoa legal’ da sua classe. Algo lhe atrai para ela, mas ao mesmo
tempo, adverte para tomar cuidado. Então, você descobre que ele/ela tem um
problema sexual que não é da sua conta. Se a amizade com essa pessoa permanece
a nível de amizade, apenas vendo-a algumas horas por dia, será uma coisa; se
não, as ondas de energia sexual deturpadas podem machucar sua aura. Se a sua
sexualidade está aflorando com esse tipo de energia ao seu redor, ela pode
danificar-se.
Acredito no que um homem santo indiano disse: Deus criou
apenas duas castas os homens e as mulheres. Acho triste que o primeiro contato
entre homem e mulher não irmãos ou pai e filha, seja sempre recheado com sinais
sexuais. Prefiro pensar que somos todos neutros, que estou conversando com um
igual, depois. Minha abordagem é pouco compreendida, pelos homens porque pensam
com o embaixo deles primeiro e pelas mulheres por que pensam primeiro no
embaixo dos homens. Não sei o que lhe passar nesse assunto, só que no tempo das
tribos antigas as mulheres e os homens tinham menos problemas psicológicos que
hoje. A morte andava muito perto para vivermos de frescuras e adjetivos
possessivos.
Você vai viver em um Nosso Lado que não mudou nada desde
Salomão. Você vai viver rodeada por um mundo de gente que sofre diversos graus
da dor da separação, da falta do amor, do medo e do condicionamento social. Vai
ver, principalmente, pessoas que tem compromisso com a tristeza e que, por
qualquer motivo, querem fazer exatamente o contrário do que vários mestres
convidaram todos a participar: fazer com os outros o que queremos que façam
conosco.
O exposto acima é uma pálida e ultra resumida forma de fazer
você olhar a direção para compreender os que lhe rodeiam, sem julgamentos. Estudar
o que a ciência do comportamento e da evolução da espécie, o estudo dos
mecanismos cerebrais, dos mecanismos psicológicos não é balela, é conhecer a si
própria e avaliar onde, em uma situação, algo está muito desequilibrado e
merece atenção. Eu não tenho autoridade para falar de todos os assuntos, mas
sei mostrar a direção em que muitas respostas se encontram. Respostas que
ajudam sua mediunidade a se tornar um instrumento favorável e não uma maldição.
Por favor, estude, leia, se interesse por estes assuntos que parecem viagem de
cientista maluco por que não são !Médiuns que se interessam por ocultismo, que
conheci, não vão tão longe como aqueles que se interessam por ciência e
equilíbrio. Aceitar a mediunidade como um mistério religioso, oculto é muito
tacanha. Conhecer os outros não é só uma forma de defesa, mas principalmente de
conhecer a si próprio.
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