Saturday, November 11, 2023

Fazer uso da mediunidade ou não?

 Eis a questão. Já viu o que é, no que dá, no que não dá, mas e ai? Usar ou não? Dá mesmo para usar uma coisa destas, que veio sem que ninguém peça e que não dá para se livrar (você deve estar perguntando se não tem mesmo um jeito de cortar fora).

Pensando no homem sentado na sala.Você já viu que é problema seu, só você enxergá-lo mesmo. Agora o que você quer? Deixar a coisa como está? Dar um jeito no camarada e esquecer o resto? Quer ir mais além? Fazer novos amigos Lá e Cá? Sente que a situação é mais forte que isso e precisa torna-la uma coisa de profissional? Tudo o que vivi e vi ao meu redor, até agora, diz que sim, dá para fazer um uso disso, mas não é obrigação de ninguém concordar. Falo mais: é o uso dela, o reconhecimento de que está lá, que faz que a liberação seja possível. Usá-la é “cortá-la”.

A comparação mais correta que me ocorre é a de que você comprou um carro com uns equipamentos que não pediu, mas vem no pacote. Mesmo querendo pagar menos, ter menos frescura, entregaram instrumentos que você não pediu. Das duas uma, ou você usa ou arranca. Arrancar pode estragar o painel, a suspensão, umas coisas que você realmente precisa que fiquem, para o carro andar. Então faz o que? Pior quando entra uma pessoa no carro, pergunta como funciona e você responde que não sabe ao certo. Ou vai dar zebra quando você disser que não sabia que tinha aquilo e o amigo vai ter a oportunidade de mostrar o bonzão que ele é. Se você não quer passar vexame, nem deixar os outros se saírem bem à custa de algo seu, use bem usado. Use e fique livre.

Como usar? Como você analisaria uma ferramenta que lhe dessem de presente, um cortador de grama, que você sabe o que é, mas nunca usou? Leria o manual de instruções, pediria opinião de gente que já usou, consideraria o fato de talvez não ser útil se vier a mudar de casa e não ter grama para cortar, mas consideraria também poder cortar grama para os outros, poderia cobrar para isso, fazer profissão disso, poderia até fazer caridade e cortar a grama de quem já não pode mais fazê-lo sozinho. Iria ligar a maquina e dar um rolê pelo jardim, fazer umas barbeiragens, quase matar o podle da vizinha (bem que você tentou), suar, escutar piada dos outros, gente que quer dar palpite, gente que quer ferrar você com boas intenções (tipo liga no 220, que a máquina vai melhor). Então você, no final do dia pega uma cerveja (só depois dos 18 anos, antes você só imagina) senta na varanda e pensa em tudo que ouviu, leu, fez e toma uma decisão. Qualquer decisão será certa, esqueça o certo e o errado. NÃO DISCUTA MÉTODOS COM NINGUÉM, SOMENTE RESULTADOS.

A mediunidade não é diferente de nada no seu corpo, tem tanta importância quanto seus braços, suas pernas ou sua cabeça. É uma ferramenta, como as mãos e o cérebro. Você vive sem braços e pernas e sem cérebro (essa ultima é uma vida mais invisível, mais tipo fantasma, mas é vida). Você pode ignorar seus pés, mas usá-los pode ser mais proveitoso. Ignorando você continua andando, mas usando você se dá a chance de ser um entendido em futebol ou tango. Ignore os pés e será apenas mais um quadrúpede que anda em duas pernas há poucos milhões de anos.

Cobrar por serviços prestados tem sido uma discussão sem fim dentro das religiões que dão lugar ao médium. Caridade todo mundo religioso manda fazer, e faz quem quer. A questão é cobrar para tirar um obsessor de uma casa ou não cobrar, de cobrar para alinhar os chacras de alguém ou não? O médico cobra pois fez faculdade e empenhou tempo e dinheiro na profissão. Sim, mas a oposição diz que o médium gastou tempo e dinheiro se aperfeiçoando além do plasma que a questão envolve.

Não se cobra pelo que se tem de graça, dizem alguns. Sim, mas então não vamos cobrar por nada que as mãos produzam, elas foram dadas de graça. Ah! Mas não é a mesma coisa. Como não? Estou usando o órgão cerebral para fazer o que faço, então como fica? - respondem os opositores. E quem paga pelo aluguel, a luz e a água do prédio que ocupo para ajudar os outros? Só de doação não dá. Essa discussão é interminável.

Vou contar o que vejo. Se a sua decisão é de usar, pelo tempo que você decida, a mediunidade como instrumento de crescimento e de captação de conhecimento, você não tem que se preocupar em cobrar nada, você é um estudante, um pesquisador autônomo. Se sua mediunidade é média para forte, mesmo contra vontade, será necessário repartir. Será muita energia num corpo só, e já falamos sobre a “cobrança” que recai sobre ter muito e não repartir. Principalmente se for uma mediunidade que envolve as energias de cura, e seus protetores específicos, será muito difícil viver bem sem praticar. Exatamente como quem tem muita energia sexual e não pratica sexo, quem tem muita energia física e não pratica esporte.

Se você é do tipo que “quer fazer diferença”, fique mais atento ainda. Quem está alinhado, centrado na vida de Lá e de Cá, já está fazendo a diferença. Quem quer fazer a diferença ainda precisa se trabalhar e avaliar se essa diferença é uma questão de provar aos outros e a si mesmo algo, ou se, como no caso deste livro, escrever sobre o que gostaria de ter encontrado quando precisei. Nenhum está errado, mas querer provar algo lhe coloca em posição de observação, não de ação.

No caso de ser necessário praticar a mediunidade, repartindo-a com terceiros, será bom pensar em custos materiais. A linha entre imoral e custo beneficio TEM que existir, e sair por ai oferecendo de graça o que se tem, resulta em desgraça. Não vi um projeto individual ou coletivo, que quisesse fazer a utopia prevalecer e houvesse dado certo. De dez que vi ou participei, dez não deram errado, mas deram tudo menos o objetivo que queriam alcançar.

Uma boa regra para começar é a de que não se pode dar o que não se tem. Assim como eu não posso dar um pacote de sal se eu não o tenho, não posso dar amor num dia que estou passando mal. O sal está, o amor está, mas em outro canto, não comigo naquele momento, naquele local. Se você quer dar sal ou amor, e não está ali, no momento, saia para comprar sal, saia e se encha de amor, volte e poderá dizer tenho sal, tenho amor para dar, agora.

Não se despe um santo para vestir outro. Você daria sua calça para alguém que está passando frio? Então, por que daria algo que lhe faria ficar nu e com outros problemas que resultariam de ter dado o que era para seu uso? No caso da calça, além de tudo quanto é tarado ficar feliz, você poderia parar num hospício ou na delegacia, por atentado violento ao pudor. No caso de energia que você tem, mas só o suficiente para si próprio, contra doenças, mau estar, obsessores, é bom pensar se ajudar alguém não resultará em problemas maiores ainda. Um exemplo corriqueiro é o dos homens e sexo. Não tente fazê-los entender que não tem como haver sexo nos dias em que se está mal. Algo no cérebro deles, ou no ouvido, não recebe a mensagem. Mesmo que você esteja cor verde e vomitando sangue, sempre haverá a perguntinha básica - hoje vai dar meu bem? Em quarenta anos quero poder lhe apresentar uma resposta, mas até agora não encontrei a resposta para a surdez deles, nem como proceder sem confronto, em situações como essa.

Sobre dar, que é uma arte que implica em limite, não somos bons em estabelecer limites para nós ou em aceitar o dos outros. Desde dar atenção ao professor até dar uma gelada no parceiro, ninguém sabe se fez certo... até que o coração prove que sim.

Para saber o limite, a pessoa tem que se conhecer profundamente. Por exemplo, não gosto de muita gente ao meu redor, consigo manter o equilíbrio por algumas horas, depois vou ficando zureta, aí vem a irritação e no final eu tô mordendo feito cão raivoso. Preciso de espaço físico. Tem gente que gosta de metrô, shopping sexta a tarde, cinema lotado. Eu não, apenas suporto para conseguir algo que me interessa, mas não faço por gosto. Sem esse dado básico não consigo avaliar muitas coisas. No caso da mediunidade, se eu quiser voltar a dividi-la com outros, fazer uso comum dela, não irei trabalhar com grupos grandes, ou com atendimentos coletivos. Descobri que prefiro trabalhar “sozinha” (levando em consideração que não posso mandar embora os Outros) ou será muito fácil ficar sobrecarregada, causando-me desde cansaço até doenças. Mas já dei aulas sobre mediunidade, sobre outros assuntos que tenho facilidade e não me importo em estar perto de muita gente para passar conhecimento adiante. Talvez por que em uma palestra as pessoas estejam mais quietas do que em shoppings centers.

Agora menciono a questão de grupos espirituais, ou espiritualizados dando o testemunho do que vi acontecer várias vezes: imagine um grupo de pessoas de “bem” que querem fazer algo pelo mundo e que tem alguma condição para fazê-lo, ou para começar a fazer. Alguns são médiuns, talvez tenha um no grupo que seja bem forte e mais desenvolvido os demais. Outros tem mais dinheiro que mediunidade, mas tem um companheiro que quer entrar neste grupo e mesmo contra a vontade essas pessoas entram, talvez para agradar o parceiro.

Escolhem um local, reformam, gastam bastante dinheiro e empenho nisso. Começam a trabalhar atendendo pessoas de graça para ajudá-las em diversos problemas que derivam dos quatro básicos: sexo, dinheiro, saúde, sociedade. A coisa vai bem, mesmo com os que não são médiuns falando sobre o aluguel que está caro, a conta de luz que está alta, o dinheiro que não está dando. Como tudo que é de graça, aparece para ser atendido gente de todo tipo, mas mais do tipo que é curioso, não que quer ajuda.

Como as pessoas estão sujeitas a problemas (mesmo para quem cuida de quem quer ser cuidado), as sobrecargas vão acontecendo. Quando o aluguel estoura e as cobranças financeiras chegam, o grupo se reúne e decide que deixará uma caixa de doações na entrada para que as pessoas dêem o que acharem certo. Mas o que as pessoas que estão sendo atendidas acham certo é continuar não pagando os custos básicos. Então o grupo se reúne, briga bastante e decide cobrar algo que cubra as despesas mas que é tão baixo que as pessoas vejam que ninguém esta ganhando com isso, como se ganhar pelo trabalho feito fosse feio. Muitos deles já estão ressentidos por verem o sonho não ser do jeito que sonharam. Esquecem que sonho mesmo só com onda REM, no estado inconsciente do sono.

Depois de um tempo que pode variar, mas que sempre chega, o grupo vai percebendo que não está tendo retorno para os indivíduos, pois cada pessoa tem valores diferentes e se sentem felizes com coisas diferentes. Enfim, um fala o que todos queriam falar e tiveram vergonha - Não estou me ‘sentindo completo’ fazendo desta forma ­falta algo, e tenho de pagar a escola das crianças, os remédios da minha mulher, o carro que quebrou.

Na hora que entendem que deveriam cobrar pelo tempo de trabalho, o pau quebra. Cada um acha que tem que cobrar o que acha certo, o que vale a pena, uns acham que as pessoas não estão dando valor por que não pagam pela ajuda. Por que o ser humano só dá valor ao que custa dinheiro, por que tem muita gente que só vem xeretar e ocupa o espaço de quem precisa, e ai vai. Se o local tem dormitórios para pernoite e alimentação, então a coisa fica séria, pois tudo isso é caro e as pessoas tem hábitos diferentes, um anda pelado pelo dormitório, o outro se ofende, e o primeiro se ofende mais ainda, com a ofensa do segundo, outra história que vai sem fim.

Então o grupo se reúne mais uma vez e cria regras. Tudo o que não queriam, pois acreditam num mundo de pessoas com bom senso, mesmo depois do holocausto e do bom senso dos nazistas, e mais ressentimentos pessoais entram em jogo pela quebra do sonho idealizado.

De novo, depois de um tempo, anos, meses, semanas, mas que chegará, o grupo entra em atrito pois as regras tem que ser seguidas e o ser humano adora fazer outros seguirem regras, sem participar delas com os outros, e começa a fofoca: fulano fez isso ontem, cicrana não fez o que estava combinado, beltrano está olhando de jeito estranho para fulano, meu sentido diz que isso é errado. Se você gosta de ver a caixa d’água pegar fogo, senta, pega o balde de pipoca e divirta-se. O pau vai quebrar feio. Não há o que impeça, neste ponto. Melhor dizendo, não há quem queira impedir, por motivos diversos.

O final óbvio e certo, desde o principio é o fechamento do local, um monte de gente que se beneficiou do trabalho feito lá, entristecida e frustrada com o fechamento, e um grupo que não fez muito alem de se machucar e ganhar maus inimigos. Essa historia pode ser para um grupo ou para um indivíduo, só muda a quantidade de gente que fará inimigos.

Mas então o que era errado? Errado nada, mas sim mal planejado, mal conduzido, sem transparência. Palavras em voga hoje.Que tal trazer os Outros para a moda, já que eles são mais transparentes que nós, em todos sentidos? Começando por pessoas que não sabem o que querem, mal trabalhadas pessoalmente e com estudo financeiro equivocado.

Com certeza digo que seria melhor se você adquirisse experiência própria para responder para si o que quer ou não quer. Ler o meu testemunho irá ajudar na busca desta resposta, quer concorde ou não com o que digo, pois não é um livro para se concordar, é para fazer pensar. Como eu quis que houvesse um que mostrasse até perguntas que voavam ao meu redor, mas que não conseguia verbalizar para mim mesma, que dirá responder algo que não foi perguntado.

Vá em frente e descubra o mundo, mas guarde os cuidados que lhe passei, principalmente sobre como identificar algo e como se defender, caso necessário. Não quero ver você ser mais um daqueles que me faz sentir vergonha de ser humana ainda que miscigenada. Não seja mais um ‘turista’ desrespeitador de países alheios, seja cidadão não só do mundo e todas suas dimensões (onze, segundo a Física comprova) de forma educada, respeitosa, mas completa.

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