Eis a questão. Já viu o que é, no que dá, no que não dá, mas e ai? Usar ou não? Dá mesmo para usar uma coisa destas, que veio sem que ninguém peça e que não dá para se livrar (você deve estar perguntando se não tem mesmo um jeito de cortar fora).
Pensando no homem sentado na sala.Você já viu que é problema
seu, só você enxergá-lo mesmo. Agora o que você quer? Deixar a coisa como está?
Dar um jeito no camarada e esquecer o resto? Quer ir mais além? Fazer novos
amigos Lá e Cá? Sente que a situação é mais forte que isso e precisa torna-la
uma coisa de profissional? Tudo o que vivi e vi ao meu redor, até agora, diz
que sim, dá para fazer um uso disso, mas não é obrigação de ninguém concordar. Falo
mais: é o uso dela, o reconhecimento de que está lá, que faz que a liberação
seja possível. Usá-la é “cortá-la”.
A comparação mais correta que me ocorre é a de que você
comprou um carro com uns equipamentos que não pediu, mas vem no pacote. Mesmo
querendo pagar menos, ter menos frescura, entregaram instrumentos que você não
pediu. Das duas uma, ou você usa ou arranca. Arrancar pode estragar o painel, a
suspensão, umas coisas que você realmente precisa que fiquem, para o carro
andar. Então faz o que? Pior quando entra uma pessoa no carro, pergunta como
funciona e você responde que não sabe ao certo. Ou vai dar zebra quando você
disser que não sabia que tinha aquilo e o amigo vai ter a oportunidade de
mostrar o bonzão que ele é. Se você não quer passar vexame, nem deixar os
outros se saírem bem à custa de algo seu, use bem usado. Use e fique livre.
Como usar? Como você analisaria uma ferramenta que lhe dessem
de presente, um cortador de grama, que você sabe o que é, mas nunca usou? Leria
o manual de instruções, pediria opinião de gente que já usou, consideraria o
fato de talvez não ser útil se vier a mudar de casa e não ter grama para
cortar, mas consideraria também poder cortar grama para os outros, poderia
cobrar para isso, fazer profissão disso, poderia até fazer caridade e cortar a
grama de quem já não pode mais fazê-lo sozinho. Iria ligar a maquina e dar um rolê
pelo jardim, fazer umas barbeiragens, quase matar o podle da vizinha (bem que
você tentou), suar, escutar piada dos outros, gente que quer dar palpite, gente
que quer ferrar você com boas intenções (tipo liga no 220, que a máquina vai
melhor). Então você, no final do dia pega uma cerveja (só depois dos 18 anos,
antes você só imagina) senta na varanda e pensa em tudo que ouviu, leu, fez e
toma uma decisão. Qualquer decisão será certa, esqueça o certo e o errado. NÃO
DISCUTA MÉTODOS COM NINGUÉM, SOMENTE RESULTADOS.
A mediunidade não é diferente de nada no seu corpo, tem
tanta importância quanto seus braços, suas pernas ou sua cabeça. É uma
ferramenta, como as mãos e o cérebro. Você vive sem braços e pernas e sem
cérebro (essa ultima é uma vida mais invisível, mais tipo fantasma, mas é
vida). Você pode ignorar seus pés, mas usá-los pode ser mais proveitoso. Ignorando
você continua andando, mas usando você se dá a chance de ser um entendido em
futebol ou tango. Ignore os pés e será apenas mais um quadrúpede que anda em
duas pernas há poucos milhões de anos.
Cobrar por serviços prestados tem sido uma discussão sem fim
dentro das religiões que dão lugar ao médium. Caridade todo mundo religioso
manda fazer, e faz quem quer. A questão é cobrar para tirar um obsessor de uma
casa ou não cobrar, de cobrar para alinhar os chacras de alguém ou não? O
médico cobra pois fez faculdade e empenhou tempo e dinheiro na profissão. Sim,
mas a oposição diz que o médium gastou tempo e dinheiro se aperfeiçoando além do
plasma que a questão envolve.
Não se cobra pelo que se tem de graça, dizem alguns. Sim,
mas então não vamos cobrar por nada que as mãos produzam, elas foram dadas de
graça. Ah! Mas não é a mesma coisa. Como não? Estou usando o órgão cerebral
para fazer o que faço, então como fica? - respondem os opositores. E quem paga
pelo aluguel, a luz e a água do prédio que ocupo para ajudar os outros? Só de
doação não dá. Essa discussão é interminável.
Vou contar o que vejo. Se a sua decisão é de usar, pelo
tempo que você decida, a mediunidade como instrumento de crescimento e de
captação de conhecimento, você não tem que se preocupar em cobrar nada, você é
um estudante, um pesquisador autônomo. Se sua mediunidade é média para forte,
mesmo contra vontade, será necessário repartir. Será muita energia num corpo
só, e já falamos sobre a “cobrança” que recai sobre ter muito e não repartir. Principalmente
se for uma mediunidade que envolve as energias de cura, e seus protetores
específicos, será muito difícil viver bem sem praticar. Exatamente como quem
tem muita energia sexual e não pratica sexo, quem tem muita energia física e
não pratica esporte.
Se você é do tipo que “quer fazer diferença”, fique mais
atento ainda. Quem está alinhado, centrado na vida de Lá e de Cá, já está
fazendo a diferença. Quem quer fazer a diferença ainda precisa se trabalhar e
avaliar se essa diferença é uma questão de provar aos outros e a si mesmo algo,
ou se, como no caso deste livro, escrever sobre o que gostaria de ter
encontrado quando precisei. Nenhum está errado, mas querer provar algo lhe
coloca em posição de observação, não de ação.
No caso de ser necessário praticar a mediunidade,
repartindo-a com terceiros, será bom pensar em custos materiais. A linha entre
imoral e custo beneficio TEM que existir, e sair por ai oferecendo de graça o
que se tem, resulta em desgraça. Não vi um projeto individual ou coletivo, que
quisesse fazer a utopia prevalecer e houvesse dado certo. De dez que vi ou
participei, dez não deram errado, mas deram tudo menos o objetivo que queriam
alcançar.
Uma boa regra para começar é a de que não se pode dar o que
não se tem. Assim como eu não posso dar um pacote de sal se eu não o tenho, não
posso dar amor num dia que estou passando mal. O sal está, o amor está, mas em
outro canto, não comigo naquele momento, naquele local. Se você quer dar sal ou
amor, e não está ali, no momento, saia para comprar sal, saia e se encha de
amor, volte e poderá dizer tenho sal, tenho amor para dar, agora.
Não se despe um santo para vestir outro. Você daria sua
calça para alguém que está passando frio? Então, por que daria algo que lhe
faria ficar nu e com outros problemas que resultariam de ter dado o que era
para seu uso? No caso da calça, além de tudo quanto é tarado ficar feliz, você
poderia parar num hospício ou na delegacia, por atentado violento ao pudor. No
caso de energia que você tem, mas só o suficiente para si próprio, contra
doenças, mau estar, obsessores, é bom pensar se ajudar alguém não resultará em
problemas maiores ainda. Um exemplo corriqueiro é o dos homens e sexo. Não
tente fazê-los entender que não tem como haver sexo nos dias em que se está
mal. Algo no cérebro deles, ou no ouvido, não recebe a mensagem. Mesmo que você
esteja cor verde e vomitando sangue, sempre haverá a perguntinha básica - hoje
vai dar meu bem? Em quarenta anos quero poder lhe apresentar uma resposta, mas
até agora não encontrei a resposta para a surdez deles, nem como proceder sem confronto,
em situações como essa.
Sobre dar, que é uma arte que implica em limite, não somos
bons em estabelecer limites para nós ou em aceitar o dos outros. Desde dar
atenção ao professor até dar uma gelada no parceiro, ninguém sabe se fez
certo... até que o coração prove que sim.
Para saber o limite, a pessoa tem que se conhecer
profundamente. Por exemplo, não gosto de muita gente ao meu redor, consigo
manter o equilíbrio por algumas horas, depois vou ficando zureta, aí vem a
irritação e no final eu tô mordendo feito cão raivoso. Preciso de espaço
físico. Tem gente que gosta de metrô, shopping sexta a tarde, cinema lotado. Eu
não, apenas suporto para conseguir algo que me interessa, mas não faço por
gosto. Sem esse dado básico não consigo avaliar muitas coisas. No caso da
mediunidade, se eu quiser voltar a dividi-la com outros, fazer uso comum dela,
não irei trabalhar com grupos grandes, ou com atendimentos coletivos. Descobri
que prefiro trabalhar “sozinha” (levando em consideração que não posso mandar
embora os Outros) ou será muito fácil ficar sobrecarregada, causando-me desde
cansaço até doenças. Mas já dei aulas sobre mediunidade, sobre outros assuntos
que tenho facilidade e não me importo em estar perto de muita gente para passar
conhecimento adiante. Talvez por que em uma palestra as pessoas estejam mais
quietas do que em shoppings centers.
Agora menciono a questão de grupos espirituais, ou
espiritualizados dando o testemunho do que vi acontecer várias vezes: imagine
um grupo de pessoas de “bem” que querem fazer algo pelo mundo e que tem alguma
condição para fazê-lo, ou para começar a fazer. Alguns são médiuns, talvez
tenha um no grupo que seja bem forte e mais desenvolvido os demais. Outros tem
mais dinheiro que mediunidade, mas tem um companheiro que quer entrar neste
grupo e mesmo contra a vontade essas pessoas entram, talvez para agradar o
parceiro.
Escolhem um local, reformam, gastam bastante dinheiro e
empenho nisso. Começam a trabalhar atendendo pessoas de graça para ajudá-las em
diversos problemas que derivam dos quatro básicos: sexo, dinheiro, saúde,
sociedade. A coisa vai bem, mesmo com os que não são médiuns falando sobre o
aluguel que está caro, a conta de luz que está alta, o dinheiro que não está
dando. Como tudo que é de graça, aparece para ser atendido gente de todo tipo,
mas mais do tipo que é curioso, não que quer ajuda.
Como as pessoas estão sujeitas a problemas (mesmo para quem
cuida de quem quer ser cuidado), as sobrecargas vão acontecendo. Quando o
aluguel estoura e as cobranças financeiras chegam, o grupo se reúne e decide
que deixará uma caixa de doações na entrada para que as pessoas dêem o que
acharem certo. Mas o que as pessoas que estão sendo atendidas acham certo é continuar
não pagando os custos básicos. Então o grupo se reúne, briga bastante e decide
cobrar algo que cubra as despesas mas que é tão baixo que as pessoas vejam que
ninguém esta ganhando com isso, como se ganhar pelo trabalho feito fosse feio. Muitos
deles já estão ressentidos por verem o sonho não ser do jeito que sonharam. Esquecem
que sonho mesmo só com onda REM, no estado inconsciente do sono.
Depois de um tempo que pode variar, mas que sempre chega, o
grupo vai percebendo que não está tendo retorno para os indivíduos, pois cada
pessoa tem valores diferentes e se sentem felizes com coisas diferentes. Enfim,
um fala o que todos queriam falar e tiveram vergonha - Não estou me ‘sentindo
completo’ fazendo desta forma falta algo, e tenho de pagar a escola das
crianças, os remédios da minha mulher, o carro que quebrou.
Na hora que entendem que deveriam cobrar pelo tempo de
trabalho, o pau quebra. Cada um acha que tem que cobrar o que acha certo, o que
vale a pena, uns acham que as pessoas não estão dando valor por que não pagam
pela ajuda. Por que o ser humano só dá valor ao que custa dinheiro, por que tem
muita gente que só vem xeretar e ocupa o espaço de quem precisa, e ai vai. Se o
local tem dormitórios para pernoite e alimentação, então a coisa fica séria,
pois tudo isso é caro e as pessoas tem hábitos diferentes, um anda pelado pelo
dormitório, o outro se ofende, e o primeiro se ofende mais ainda, com a ofensa
do segundo, outra história que vai sem fim.
Então o grupo se reúne mais uma vez e cria regras. Tudo o
que não queriam, pois acreditam num mundo de pessoas com bom senso, mesmo
depois do holocausto e do bom senso dos nazistas, e mais ressentimentos
pessoais entram em jogo pela quebra do sonho idealizado.
De novo, depois de um tempo, anos, meses, semanas, mas que
chegará, o grupo entra em atrito pois as regras tem que ser seguidas e o ser
humano adora fazer outros seguirem regras, sem participar delas com os outros,
e começa a fofoca: fulano fez isso ontem, cicrana não fez o que estava
combinado, beltrano está olhando de jeito estranho para fulano, meu sentido diz
que isso é errado. Se você gosta de ver a caixa d’água pegar fogo, senta, pega
o balde de pipoca e divirta-se. O pau vai quebrar feio. Não há o que impeça,
neste ponto. Melhor dizendo, não há quem queira impedir, por motivos diversos.
O final óbvio e certo, desde o principio é o fechamento do
local, um monte de gente que se beneficiou do trabalho feito lá, entristecida e
frustrada com o fechamento, e um grupo que não fez muito alem de se machucar e
ganhar maus inimigos. Essa historia pode ser para um grupo ou para um
indivíduo, só muda a quantidade de gente que fará inimigos.
Mas então o que era errado? Errado nada, mas sim mal
planejado, mal conduzido, sem transparência. Palavras em voga hoje.Que tal
trazer os Outros para a moda, já que eles são mais transparentes que nós, em
todos sentidos? Começando por pessoas que não sabem o que querem, mal
trabalhadas pessoalmente e com estudo financeiro equivocado.
Com certeza digo que seria melhor se você adquirisse
experiência própria para responder para si o que quer ou não quer. Ler o meu
testemunho irá ajudar na busca desta resposta, quer concorde ou não com o que
digo, pois não é um livro para se concordar, é para fazer pensar. Como eu quis
que houvesse um que mostrasse até perguntas que voavam ao meu redor, mas que
não conseguia verbalizar para mim mesma, que dirá responder algo que não foi
perguntado.
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